segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

De acordo com a nova ortografia


Terminada a guerra de Troia, que durou dez anos, Odisseu e seus companheiros navegam em direção à ilha de Ítaca. No mar, a esquadra de doze navios segue seu caminho. O trecho a seguir mostra a chegada deles a uma ilha muito estranha chamada Eólia, cercada por uma muralha de bronze.


Eólia e Lestrigônia


No início, era só um lampejo ofuscante no horizonte, um clarão brilhante demais para os olhos. Mas logo eles começaram a perceber suas formas.

- Terra! – gritou o vigia.

- Não, só pode ser um navio!

- Uma ilha.

- Uma cidade!

Eólia era todas essas coisas. Erguia-se do mar como uma grande bacia de bronze revirada – flutuando, balouçando, toda circundada de penhascos de bronze tão altos quanto as muralhas de Troia. Somente uma linha branca de sal marinho ressecado manchava suas encostas reluzentes e polidas. Não havia nenhuma escada, degrau ou andaime. À medida que costeavam a ilha, eles puderam ver seus próprios rostos – uma estranha visão depois de dez anos vividos em tendas de batalha. Enquanto alisavam a barba e os cabelos, Odisseu levou à boca as mãos em concha e saudou o povo de Eólia.

Bem ao seu lado, foi baixada uma cesta de metal, com a forma de um ninho de andorinhão, pendurada numa corrente de bronze. Um braço acenava da beira do alto paredão de bronze. Sem sequer um momento de hesitação, Odisseu pulou dentro da cesta.

- Ao primeiro sinal de problema, zarpem depressa e se afastem. Polites ficará no comando se eu não regressar.

Enquanto ele falava, a cesta foi puxada de volta.

Quando chegou ao topo, duas mãos o ajudaram a sair da cesta. Eram mãos macias, pesadas de joias.

- Bem-vindo! Bem-vindo a Eólia, forasteiro. Venha beber comigo e com minha família. Devo mandar buscar seus homens ou enviar-lhes comida e bebida lá embaixo? As regras da hospitalidade ordenam que eu lhe dê tudo de que necessita.

- Senhor, sua gentileza já é uma prova disso – disse Odisseu, que se apresentou, bem modestamente.

- Odisseu! Mas tenho ouvido falar tanto sobre você! Cada navio que passa traz alguma novidade de Troia e seus heróis, e o seu nome é sempre mencionado. Mas a guerra acabou. O que está fazendo tão longe de seu reino de três ilhas?

O rei de Eólia estava ávido por notícias: ele as engolia como se fossem alimento e bebida, e Odisseu logo entendeu por quê.
Na sala de jantar, todo o povo de Eólia estava reunido: a mulher do rei, seus seis filhos, seis filhas e um punhado de servos. Como peças num tabuleiro de xadrez, estavam sentados frente a frente, sobre o brilhante chão ladrilhado, enquanto uma música tilintante ressoava acima de suas cabeças, vindas de fileiras de conchas marinhas que chocalhavam ao vento.

Odisseu mandou dizer a seus homens que todos estavam em segurança. Mas percebendo o número reduzido de cadeiras e a única mesa de jantar, insistiu para que permanecessem nos barcos e comessem e bebessem todas as boas coisas que o rei Éolo tinha lhes enviado. E como jantaram! Por toda a tarde e toda a noite eles comeram, até que os onze barcos negros se acomodaram na água e os marinheiros adormeceram sobre seus remos.


Odisseia, Homero. Ed. Ática, col. O tesouro dos clássicos juvenil, págs. 35-38.



Estudo do texto:


1. “Terra, navio, ilha, cidade.” Eólia parecia ser todas essas coisas. Explique por quê.


2. Durante todo o livro Odisseia – e particularmente no texto selecionado – percebe-se claramente que Odisseu é um forte guerreiro que une inteligência e ação. Ele raciocina e age com rapidez, por isso é o líder do grupo. Retire do texto uma situação que comprove isso.


3. Esse texto é uma narrativa de aventura. Baseando-se no que já vimos sobre o assunto, escreva abaixo três características que fazem desta obra um romance de aventura.

4. Como se chamava o rei de Eólia?