quarta-feira, 30 de junho de 2010

Para se fazer uma campina
é preciso um trevo, uma abelha
e um sonho

Mas se a abelha se afasta,
um sonho basta

Tradução livre de um poema de Emily Dickinson
Covardia

Num domingo, passeavam dois amigos numa floresta, quando apareceu um urso feroz e se jogou sobre eles.
Um deles trepou em uma árvore e escondeu-se, enquanto o outro ficava no caminho. Deixando-se cair ao solo, fingiu-se morto.
O urso aproximou-se e cheirou o homem, mas como este prendia a respiração, julgou-o morto e afastou-se.
Quando a fera estava longe, o outro desceu da árvore e perguntou, a gracejar, ao companheiro.
― Que te disse o urso ao ouvido?
― Disse-me que aquele que abandona o seu amigo no perigo é um covarde!

(Malba Tanan. Lendas do céu e da terra. 13 ed. Rio de Janeiro, Conquista. 1958)

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo
outra parte é ninguém
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


De Na Vertigem do Dia (1975-1980)

São Francisco


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

MORAES, Vinícius de. A arca de Noé: poemas infantis. São Paulo: Cia. Das Letras, 1991. P. 14.

O pato


Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
La vem o Pato
Para ver o que é que há.


O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.


MORAES, Vinícius de. A arca de Noé: poemas infantis. São Paulo: Cia. Das Letras, 1991.


O elefantinho


Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido, bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes, pobre coitado?


— Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!

MORAES, Vinícius de. A arca de Noé: poemas infantis. São Paulo: Cia. Das Letras, 1991. P. 36.


O que é do homem o bicho não come


Lá vem um bicho esquisito,

Lobo em pele de cordeiro?

Ovelha negra dos bichos?

Os outros bichos espreitam.

Assustados, correm e somem,

Pois é sempre imprevisível

Esse tal de Bicho-Homem


OLIVEIRA, Marcelo R. L. Nós e os bichos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2001. P. 28.


Basta!

Agora chega!

Chega de obedecer
e de ficar calado.
Chega de ter que fazer
tudo o que não quero
e acho errado!

Agora chega!

Chega de comer pepino
e de engolir ovo quente,
chega de dormir cedo
e acordar mais cedo ainda,
chega de visitar a avó,
a tia, a prima, o padrinho...
Chega de prestar contas
do banho tomado,
da roupa escolhida,
do uniforme da escola,
da nota da prova,
de cada segundo,
de cada respiro!

Chega, chega... e chega!

Liberdade ainda que tarde!
Independência ou morte!

Manheêêêê!
Onde está a minha roupa de goleiro?
Paiêêêêê!
Quero o dinheiro da minha mesada!


Carlos Queiroz Telles. Sementes de sal. São Paulo: Moderna, 2003. P. 74-75.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Sem barra

Enquanto a formiga
Carrega comida
para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro.

A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.

Mas sem a cantiga
Da cigarra
Que distrai da fadiga,
Seria uma barra
O trabalho da formiga.

PAES, José Paulo. Poemas para brincar. São Paulo:Ática.




Un coup de soleil...



Que língua falo eu?

Olhe a foto abaixo. O que você acha que esta moça carrega na bandeja?

a) Caranguejos cozinhados
b) Minhocas fritas
c) Carne assada e desfiada
d) Aranhas fritas

Se optou pela letra "d", acertou! São a-ra-nhas fri-tas vendidas como petisco!!
Sabe onde? Na cidade de Skun, no Camboja. Lá as aranhas são consideradas deliciosos petiscos e até convivem com os locais amigavelmente. Algumas pessoas cuidam de tarântulas como animais de estimação. Outras preferem fritar e vender a porção de aracnídeos no centro da cidade.



sexta-feira, 25 de junho de 2010

As pessoas tendem a colocar palavras onde faltam ideias.

Goethe
Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

Voltaire

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

José Saramago - 1922 - 2010, escritor de língua portuguesa

16/06/2010 20h33 - Atualizado em 17/06/2010 16h18

Menina de 9 anos ensina a lutar com crocodilos nos EUA


Samantha Young herdou ofício do pai, e agora dá aula para adultos.
Em fazenda no Colorado, família convive com 350 aligatores.

Do G1, em São Paulo


Samantha Young, 9 anos, domina um crocodilo no Colorado Gators Reptile Park, no estado americano de Colorado. (Foto: Barry Bland/Barcroft USA/Getty Images)


Samantha aprendeu com o pai, Jay Young, a dominar os animais. Hoje, ela dá aula de luta com aligadores para adultos, por um custo de cerca de R$ 190 por hora. (Foto: Barry Bland/Barcroft USA/Getty Images)



Jay, sua mulher Erin e a pequena Samantha moram em um parque com 350 crocodilos. (Foto: Barry Bland/Barcroft USA/Getty Images)





quarta-feira, 23 de junho de 2010

As luas de Luísa

A Terra tem uma lua,Saturno tem vinte, mas Luisa,temperamental, imprevisível,criativa, brincalhona, chorona, risonha, generosa, carente e absurda, tinha pelo menos umas trinta luas perto de si. Cada lua representava um estado de espírito diferente. A melhor lua iluminava as brincadeiras noturnas quando Luisa ficava acordada até tarde jogando, brincando, pulando na cama, vendo TV, fazendo maluquices e olhando pro céu. Era quando a mãe chegava e dizia:''Pare com isso, amanhã você tem que acordar cedo''.O que já era o suficiente para despertar a pior das luas: a do mau humor. Nesse momento ela batia o pé, chorava, xingava, e a mãe dizia apenas:''Luisa, você é de lua!''. E fechava a janela.

Luisa navegou nos bons e maus humores por alguns anos, até que um dia percebeu que o tempo, com sua velocidade, também parecia absurdo, esticando as crianças, envelhecendo os adultos, expandindo o universo e apagando e acendendo as estrelas. Olhou para o seu novo corpo de menina-moça e viu alguns de seus estados-luas de espírito se afastarem lentamente. Foi quando se deu conta do brilho da lua real, cheia e prateada que ilumina os corações apaixonados. Alguma coisa estava mudando dentro dela, se sentia menos absurda. Mas não muito: agora, quando olha para o céu, Luisa sonha com um lugar encantado, onde as fadas se encontram com os sapos e fazem deles... príncipes!

FRATE, Diléa. Histórias para acordar. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1996. p. 72.