quinta-feira, 30 de abril de 2009

Eta, carrinhos feios!

Esses são alguns dos carros mais feios já produzidos! (alguns ainda estão sendo produzidos...)


Começando pelo SsangYong Actyon, parece uma Chevrolet S10 com Tuning mal feito.
Seguido pelo Fiat Multipla, o precursor horroroso do Fiat Doblò. Parece que pegaram o topo de uma minivan e colocaram em cima de um carro comum.

Não, não é montagem nem Photoshop. É feio mesmo.
O Próprio Fiat Doblò, que embora super prático, espaçoso e confortável, tem um design que não é facil de engolir.
Buick Rendez-vous, que não é tão feio, mas tem sobrancelhas e um vidro traseiro que não combinam nada.
O Clássico Ford Edsel, um dos fiascos da Ford americana.
E que conta com uma traseira inexplicável. Aquilo parece uns banquinhos. Aliás, essa acho que não é a traseira original, mas não faz mal.
SsangYong Rodius, que parece um mix de Coupé com SUV, com uma adaptação digna de barraquinha de hot dog na traseira.
Ford Pinto, que além do nome perigoso, tinha uma traseira extremamente perigosa - o tanque de combustível ficava “embutido” no para-choque traseiro, causando incêndios em qualquer batida traseira, o que gerou um processo bilionário contra a Ford
AMC Gremlin, um dos horrorosos carros da falecida montadora
AMC Pacer, outro carro horroroso: parece que foi (mal) desenhado por uma criança. Vendo por outro ângulo, parece uma nave espacial que se transformou em um carro!
Anadol Saloon. Nem sei de onde é isso, mas ainda bem que não tem aqui no Brasil.
Citroen BX: mais parece um Transformer que não acabou completamente de virar carro
Citroen XM, outro Transformer incompleto
Pontiac Aztek. Esse é talvez o SUV mais feio já feito.
A traseira que não dá pra explicar
feio inclusive na versão esportiva


Parece que 4 times desenharam o carro - Frente inferior, frente superior, traseira inferior e traseira superior - e nenhum dos times falou com o outro. Foi um dos maiores fiascos dos últimos tempos no mercado americano, vendendo 17 mil unidades no primeiro ano, contra os estimados 75 mil. O que é nada, no mercado onde o mais vendido passa facilmente dos 600 mil por ano.
E pra finalizar, o Lada Laika, tão quadrado que parece aquele desenho básico de criança quando se pede para ela desenhar um carro.
Bom, tem gente que não gosta do Ford Ka. Eu, particularmente, acho a traseira do Ka antigo muito feia, especialmente na Europa, onde só tem 1 luz de ré.


Xiiii!!! Quase esquecia o Twingo. Bonitinho!...
Aliás, esse carro me lembra aqueles carrinhos do Playmobil.

E a traseira é pior.
Ah, sim! Quase esquecia o Gurgel. Como tem vários, eu escolhi o mais feio deles, o X-15!


Realmente bonitão esse aí, parece que fizeram de papelão. E agora os defensores da Gurgel vao me atacar - mas que é feio, isso é!
Voilà, os carros mais feios do mundo! Não sei se você concorda...
Se tiver mais algum pra completar a lista, é só enviar!



quarta-feira, 29 de abril de 2009

MUDANÇA DE HÁBITO

Como tratar pessoas que ocupam cargos importantes? Um cardeal é Vossa Eminência. Um ministro é Vossa Excelência. Um prefeito também. Um reitor é Vossa Magnificência. Um padre é Vossa Reverendíssima. Um gerente de banco é Vossa Senhoria. Um coronel também. E o papa é Vossa Santidade. Se estamos acostumados a chamar todo mundo de você, é melhor mudar de hábito...
MEDICINA GRAMATICAL

Às vezes falamos com imprecisões de sentido, e valeria a pena caprichar. Por exemplo: febre alta. Na verdade, toda febre é temperatura alta. Febre baixa, pelo menos na medicina gramatical, também não existe. Outro exemplo: tirar a pressão. Se uma enfermeira tirar a minha pressão sanguínea eu morro na hora. É bem melhor pedir-lhe para medir a pressão.
FALOU E DISSE!

Falar e dizer não são sinônimos. Quem fala, fala bem, fala muito, fala com alguém, fala diante dos outros. Já quem diz, diz a verdade, diz o que pensa, diz besteira, diz o que não deve. Falar tem a ver com o ato da fala. Dizer tem a ver com o conteúdo expresso por aquele que fala. Falou?
- FRANCESISMOS? MERCI BEAUCOUP!

É bom saber que algumas palavras do nosso vocabulário vieram do francês e, embora possamos usá-las tranquilamente, possuem correspondentes exatos no português. Para ateliê temos oficina; para complô temos conspiração; para menu temos cardápio; e para omelete temos fritada de ovos.
Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada

Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Berimbau

Os aguapés dos aguaçais
Nos igapós dos Japurás
Bolem, bolem, bolem.
Chama o saci: - Si si si si!
- Ui ui ui ui ui! Uiva a iara
Nos aguaçais dos igapós
Dos Japurás e dos Purus.

A mameluca é uma maluca.
Saiu sozinha da maloca -
O boto bate - bite bite...
Quem ofendeu a mameluca?
Foi o boto!
O Cussaruim bota quebrantos.
Nos aguaçais os aguapés
- Cruz, canhoto! -
Bolem... Peraus dos Japurás
De assombramentos e de espantos!...
Pardalzinho

O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!
A estrela

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
Irene

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Céu

A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha,
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão
Porquinho-da-índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava.
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos.
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
Pensão familiar

Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebeias, dominicais.

Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.
Vozes na noite

Cloc cloc cloc...
Saparia no brejo?
Não, são os quatro cãezinhos policiais bebendo água.
Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:
— "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .
Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
e mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
ISSO É AQUILO

I

O fácil o fóssil
o míssil o físsil
a arte o infarte
o ocre o canopo
a urna o farniente
a foice o fascículo
a lex o judex
o maiô o avô
a ave o mocotó
o só o sambaqui

II

o gás o nefas
o muro a rêmora
a suicida o cibo
a litotes Aristóteles
a paz o pus
o licantropo o liceu
o flit o flato
a víbora o heléboro
o êmbolo o bolo
o boliche o relincho

III

o istmo o espasmo
o ditirambo o cachimbo
a cutícula o ventríloquo
a lágrima o magma
o chumbo o nelumbo
a fórmica a fúcsia
o bilro o pintassilgo
o malte o gerifalte
o crime o aneurisma
a tâmara a Câmara

IV

o átomo o átono
a medusa o pégaso
a erisipela a elipse
a ama o sistema
o quimono o amoníaco
a nênia o nylon
o cimento o ciumento
a juba a jacuba
o mendigo a mandrágora
o boné a boa-fé

V

a argila o sigilo
o pároco o báratro
a isca o menisco
o idólatra o hidrópata
o plátano o plástico
a tartaruga a ruga
o estômago o mago
o amanhecer o ser
a galáxia a gloxínia
o cadarço a comborça

VI

o útil o tátil
o colubiazol o gazel
o lepidóptero o útero
o equívoco o fel no vidro
a jóia a triticultura
o know-how o nocaute
o dogma o borborigmo
o úbere o lúgubre
o nada a obesidade
a cárie a intempérie

VII

o dzeta o zeugma
o cemitério a marinha
a flor a canéfora
o pícnico o pícaro
o cesto o incesto
o cigarro a formicida
a aorta o Passeio Público
o mingau a migraine
o leste a leitura
a girafa a jitanjáfora

VIII

o índio a lêndea
o coturno o estorno
a pia a piedade
a nolição o nonipétalo
o radar o nácar
o solferino o aquinatense
o bacon o dramaturgo
o legal a galena
o azul a lues
a palavra a lebre

IX

o remorso o cós
a noite o bis-coito
o cestércio o consórcio
o ético a ítaca
a preguiça a treliça
o castiço o castigo
o arroz o horror
a nêspera a vêspera
o papa a joaninha
as endoenças os antibióticos

X

o árvore a mar
o doce de pássaro
a passa de pêsame
o cio a poesia
a força do destino
a pátria a saciedade
o cudelume Ulalume
o zunzum de Zeus
o bômbix
o ptyx


(Lição de Coisas, 1962)
Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre as mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não corde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Infância. In: Obra Completa. Rio de Janeiro, José Aguilar, 1964. p. 53-4.



Sociedade

O homem disse para o amigo:
– Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.

O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.

O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.

Quando foi hora de sair,
o amigo disse para o homem:
– Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.

No caminho o homem resmunga:
– Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: – Que idiota.

– A casa é um ninho de pulgas.
– Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.

E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pôde retribuir a visita.
FESTA NO BREJO

A saparia desesperada
coaxa coaxa coaxa.
O brejo vibra que nem caixa
de guerra. Os sapos estão danados.

A lua gorda apareceu
e clareou o brejo todo.
Até à lua sobe o coro
da saparia desesperada.

A saparia toda de Minas
coaxa no brejo humilde.
Hoje tem festa no brejo!
Sentimental

Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."
Pavão

A caminho do refeitório, admiramos pela vidraça
o leque vertical do pavão
com toda a sua pompa
solitária no jardim.
De que vale esse luxo, se está preso
entre dois blocos do edifício?
O pavão é, como nós, interno do colégio.
Fruta furto

Atrás do grupo escolar ficam as jabuticabeiras.
Estudar, a gente estuda. Mas, depois,
ei, pessoal: furtar jabuticaba.
Jabuticaba chupa-se no pé.
O furto exaure-se no ato de furtar.
Consciência mais leve do que asa
ao descer,
volto de mãos vazias para casa.
Suas mãos

Aquele doce que ela faz
quem mais saberia fazê-lo?

Tentam. Insistem, caprichando.
Mandam vir o leite mais nobre.
Ovos de qualidade são os mesmos,
manteiga, a mesma,
iguais açúcar e canela.
É tudo igual. As mãos (as mães?)
são diferentes.

terça-feira, 28 de abril de 2009

DISTINÇÃO

O Pai se escreve sempre com P grande
em letras de respeito e tremor
se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.

O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.
Com ela, sim, me entendo bem melhor:
Mãe é muito mais fácil de enganar.
(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)
(Pintura de Sérgio Bastos)
Parêmia de cavalo
*parêmia = Provérbio
Cavalo ruano corre todo o ano
Cavalo baio mais veloz que o raio
Cavalo branco veja lá se é manco
Cavalo pedrês compro dois por mês
Cavalo rosilho quero com filho
Cavalo alazão a minha paixão
Cavalo inteiro amanse primeiro
Cavalo de sela mas não pra donzela
Cavalo preto chave de soneto
Cavalo de tiro não rincho, suspiro
Cavalo de circo não corre uma vírgula
Cavalo de raça rolo de fumaça
Cavalo de pobre é vintém de cobre
Cavalo baiano eu dou pra fulano
Cavalo paulista não abaixa a crista
Cavalo mineiro dizem que é matreiro
Cavalo do sul chispa até no azul
Cavalo inglês fica pra outra vez..
Lembrete

Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.
Balanço

A pobreza do eu
a opulência do mundo

A opulência do eu
a pobreza do mundo

A pobreza de tudo
a opulência de tudo

A incerteza de tudo
na certeza de nada.
CANÇÃO DE ITABIRA

A Zoraida Diniz

Mesmo a essa altura do tempo,
um tempo que já se estira,
continua em mim ressoando
uma canção de Itabira.

Ouvi-a na voz materna
que de noite me embalava, ecoando ainda no sono,
sem que faltasse uma oitava.

No bambuzal bem no extremo
da casa de minha infância,
parecia que o som vinha
da mais distante distância.

No sino maior da igreja,
a dez passos do sobrado,
a infiltrada melodia
emoldurava o passado.

Por entre as pedras da Penha,
os lábios das lavadeiras
o mesmo verso entoavam
ao longo da tarde inteira.

Pelos caminhos em torno
da cidade, a qualquer hora,
ciciava cada coqueiro
essa música de outrora.

Subindo ao alto da serra
(serra que hoje é lembrança),
na ventania chegava-me
essa canção de bonança.

Canção que este nome encerra
e em volta do nome gira.
Mesmo o silêncio a repete,
doce canção de Itabira.
Trem de Ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Debussy

Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Um novelozinho de linha...
Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai...)
Que delicadamente e quase a adormecer o balança
- Psio... -
Para cá, para lá...
Para cá e...
- O novelozinho caiu.
ORION
A primeira namorada, tão alta
que o beijo não a alcançava,
o pescoço não a alcançava,
nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.

Luzia na janela do sobradão.
JAMAIS
por Mario Quintana

Jamais te voltes para trás de repente.
Não, não olhes agora!

O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim.
Sem fim e sem sentido...

Dessas que a gente inventava para enganar a solidão dos caminhos sem lua.
:: GÊNESIS ::por Antonio Prata

No início Deus criou a banca de jornal. E Deus viu que era bom. Então Deus reparou que ficava um povo ali em volta, jogando conversa fora, e pôs um isopor com coco gelado, e viu Deus que era bom. E disse Deus: do jornal lereis, do coco comereis e da água que dá no coco bebereis. E todos viram que era bom. Então Deus permutou com a Kaiser um pequeno freezer vertical e passou a vender as mais diversas bebidas: refrigerantes, cervejas, Gatorades. E vendo Deus que era bom também, arranjou umas mesas e cadeiras de plástico e fez da banca um pequeno bar. E viu Deus, pra variar, que era bom. Isso tudo em apenas seis dias. No sétimo, não sabe se descansa ou abre uma churrascaria rodízio.
Na rua do sabão

Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!
O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira.
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs os gomos oblongos...
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.

Ei-lo agora que sobe - pequena coisa tocante na escuridão do céu.
Levou tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo e mudava de cor.
A molecada da Rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!
Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou das mãos que o tenteavam.

E foi subindo...
para longe...
serenamente...
Como se o enchesse o soprinho tísico do José.
Cai cai balão!
A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.
Cai cai balão!
Um senhor advertiu que os balões são proibidos pelas posturas municipais.
Ele foi subindo...
muito serenamente...
para muito longe...
Não caiu na Rua do Sabão.
Caiu muito longe... Caiu no mar - nas águas puras do mar alto.
Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)
Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

domingo, 26 de abril de 2009

Sem barra

Enquanto a formiga
Carrega comida
Para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro.
A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga da cigarra
que distrai da fadiga,
seria uma barra
o trabalho da formiga

José Paulo Paes
O fogo!

- A primeira e a maior descoberta do homem foi o fogo - disse Dona Benta.
Pedrinho protestou:
- A primeira pode ser, vovó, mas a maior, não! - disse ele. - Onde a senhora põe a invenção da pólvora, da imprensa, do rádio e tantas outras?
- Sem a descoberta do fogo, nenhuma das invenções que você citou teria se dado; a descoberta do fogo foi o maior dos acontecimentos, porque permitiu tudo mais. A descoberta do fogo trouxe logo a do ferro e foi do ferro que saiu toda a nossa civilização de hoje. Nada existe que não tenha por base o fogo e o ferro.
Pedrinho ficou na dúvida, pensando. Dona Benta provocou-o.
- Aponte uma só coisa de hoje que possa ser produzida sem a ajuda do fogo e do ferro.
- Uma casa… - disse ele por dizer.
- Que mau exemplo, Pedrinho! Não vê que numa casa as telhas e os tijolos são cozidos ao fogo, e todo o madeiramento é trabalhado com toda sorte de instrumentos de ferro - machados, serras, plainas, formões, etc.?
- É verdade! É verdade! - exclamou Pedrinho como que iluminado. - Mas um livro, vovó?
- Um livro é feito de papel e impresso em prelos. O papel faz-se com o machado de ferro que corta a árvore, com a máquina de ferro que mói a madeira, com a máquina de ferro que desdobra a pasta de madeira em camadinhas finas, com as calandras de ferro que imprensam essas camadinhas, tudo isso sempre ajudado pelo calor - isto é, pelo fogo. Esse papel, assim feito graças à ajuda do fogo e do ferro, vai em seguida para as tipografias, onde é impresso em prelos de ferro, é desdobrado em dobradeiras de ferro, é grampeado em grampeadeiras de ferro, e é remetido para as livrarias em veículos de ferro - automóveis, carroças ou trens.
- Basta, vovó! - disse Pedrinho com ar pensativo. Já vi que a senhora tem toda razão. Não existe nada, absolutamente nada, de tudo quanto o homem faz no mundo de hoje, que não tenha por base o fogo e o ferro. Logo, a senhora tem razão: a primeira e a maior de todas as descobertas foi o fogo. - E voltando-se para Narizinho: - Mas não vá dizer isso para tia Nastácia. A boba, que nunca fez outra coisa na vida senão lidar com o fogão, vai ficar muito cheia de si e convencida de que foi ela quem descobriu o fogo...
Monteiro Lobato. História do mundo para crianças. São Paulo, Brasiliense, 1962. p. 18-9.
Mergulhando no texto:
1. Quais são as personagens que conversam?
2. Que personagem assiste à conversa, mas não participa dela?
3. Que personagem do Sítio do Picapau Amarelo não está presente, mas é citada na conversa?
4. Durante quase toda a conversa, Pedrinho discorda da avó e cita três exemplos de invenções que considera mais importantes que a do fogo. Cite-as.
5. Qual dos adjetivos abaixo caracteriza Dona Benta?
a) impaciente
b) insegura
c) indecisa
d) bem-informada
6. Pedrinho cita a casa e o livro como coisas que não dependem do fogo para existir. Foram bons exemplos? Justifique sua resposta.
Enchente

Chama o Alexandre!
Chama!

Olha a chuva que chega!
É a enchente.
Olha o chão que foge com a chuva...

Olha a chuva que encharca a gente.
Põe a chave na fechadura.
Fecha a porta por causa da chuva,
olha a rua como se enche!

Enquanto chove, bota a chaleira
no fogo: olha a chama! olha a chispa!
Olha a chuva nos feixes de lenha!
Vamos tomar chá, pois a chuva
é tanta que nem de galocha
se pode andar na rua cheia!

Chama o Alexandre!
Chama!

Cecília Meireles
Menina apaixonada oferece
um coração cheio de vento
onde quem quiser pode soprar
três sementes de sonho.
O coração da menina
ilumina as noites escuras
como se fosse um farol.
É um coração como todos os outros:
às vezes diz sim
às vezes diz não
às vezes diz sim
às vezes diz não
e tem sempre uma enorme
fome de sol.

Roseana Murray. Classificados Poéticos, Ed. Miguilim.

Mergulhando no texto:

1. Que sementes de sonhos seriam essas? Você quer arriscar um palpite?
2. O coração da menina é muito bonito! Dê, pelo menos, dois motivos que justifiquem essa beleza. 3. Ela é uma menina diferente das outras? Justifique sua resposta.
4. O que significa ter "fome de sol"? Capriche na resposta!
Canção

À minha carícia apareceste-me
tão inesperada,
num esplendor tão novo,
que eu tive a sensação absurda
de que, redondos e brancos, os
teus seios nasciam
ao gesto criador
das minhas mãos.

Tasso da Silveira
O mundo na avenida

O tempo das palavras terminou.
Agora as nossas vidas estão salvas.
Calados, somos nada e somos tudo.
Indo pela Avenida entre os cartazes
e o rumor e o fedor da multidão
já nem mesmo gaguejo ou faço gestos.
(dispenso o imperfeito e o desconexo).
Quem fala não diz nada, quando diz.
Quem cala não consente e clama tudo.
Hoje falo o que sou porque sou mudo.

Lêdo Ivo
A arte de ser feliz

Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Oras, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu que participava do auditório imaginava os assuntos e as peripécias – e me sentia completamente feliz.Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos: que sempre me parecem personagens de Lope de Veja.
Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles.
A causa da chuva

Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegavam a uma conclusão.
- Chove só quando a água cai do telhado do meu galinheiro – esclareceu a galinha.
- Ora, que bobagem! – disse o sapo de dentro da lagoa. – Chove quando a água da lagoa começa a borbulhar suas gotinhas.
- Como assim? – disse a lebre. – Está visto que só chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as gotas d’água que têm dentro.
Nesse momento começou a chover.
- Viram? – gritou a galinha. – O telhado do meu galinheiro está pingando. Isso é chuva!
- Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? – disse o sapo.
- Mas, como assim? – tornou a lebre. – Parecem cegos! Não vêem que a água cai das folhas das árvores?

Moral: Todas as opiniões estão erradas.

FERNANDES, Millôr.
A gansa dos ovos de ouro

Um homem e sua mulher tinham a sorte de possuir uma gansa que todo dia punha um ovo de ouro. Mesmo com toda essa sorte, eles acharam que estavam enriquecendo muito devagar, que assim não dava. Imaginando que a gansa devia ser de ouro por dentro, resolveram matá-la e pegar aquela fortuna toda de vez. Só que, quando abriram a barriga da gansa, viram que por dentro ela era igualzinha a todas as outras. Foi assim que os dois não ficaram ricos de uma vez só, como tinham imaginado, nem puderam continuar recebendo o ovo de ouro que todos os dias aumentava um pouquinho sua fortuna.Moral: Não tente forçar demais a sorte.

Fábulas de Esopo.
A menina e a estátua

A menina quer brincar com a estátua da fonte,
que é uma criança nua, em cuja cabeça
os passarinhos pousam, depois do banho,
antes de voarem para longe.

A menina, com muita precaução,
toca o braço da estátua,
e fala com ela essas coisas com outro sentido
que as crianças dizem umas às outras,
ou aos objetos com que conversam,
ou a si mesmas, quando estão sozinhas.

A menina insiste com a estátua,
convidá-a a descer do plinto,
passa o dedo pelos seus pés de bronze,
examinando-os e persuadindo-a.

E diante de tal silêncio,
fica séria e preocupada,
mira a estátua de perto,
como a um pequeno deus misterioso,
e fica de longe a mirá-la,
por um momento prolongado e respeitoso.

Cecília Meireles, MAR ABSOLUTO, in obra completa, Aguilar, pp. 42-43.
A formiga boa

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu
– tique, tique, tique...
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
– E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra respondeu depois dum acesso de tosse:
- Eu cantava, bem sabe...
– Ah!... – exclamou a formiga recordando-se. – Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas? – Isso mesmo, era eu...
– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: "que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora!" Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.Os artistas – poetas, pintores, músicos – são as cigarras da humanidade.

LOBATO, Monteiro.
A cigarra e a formiga

Depois de haver cantado durante todo o verão, quando se aproximava o inverno a cigarra se encontrou em extrema penúria, por falta de provisões. Como nada lhe restasse, nem um pequeno verme ou algum resto de mosca, e estando faminta, foi à procura da formiga, sua vizinha. Pediu-lhe que lhe emprestasse alguns grãos, a fim de manter-se até que voltasse o estio.
- Eu lhe prometo, minha amiga – disse a cigarra – sob palavra, a pagar-lhe tudo, com juros, antes do mês de agosto.
A formiga, que nunca empresta nada a ninguém e, por isso, consegue amealhar, perguntou à suplicante:
- Que fazias durante o verão?
- Passava cantando os dias e as noites – respondeu a cigarra.
- Pois muito bem – concluiu a formiga. Cantava? Pois dance agora!

LA FONTAINE. Jean de

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Reinações de Narizinho - Monteiro Lobato

Em 1921, Monteiro Lobato, através de sua editora, introduziu no mercado de livros didáticos brasileiros um produto totalmente diferente: o Narizinho Arrebitado, “segundo livro de leitura para uso das escolas primárias.”
O imediato sucesso da obra levou o autor a prolongar as aventuras de seus personagens em muitos outros livros, agora não mais didáticos, girando todos ao redor do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Posteriormente vários destes livros foram reunidos em um volume: As Reinações de Narizinho.
Assim, a forma atual desta primeira obra infantil de Lobato é fruto da colagem de fragmentos que, inicialmente, apresentavam autonomia narrativa. As partes que compõem o livro e que coincidem com as mini-histórias originais são: “Narizinho Arrebitado”, “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, “Aventuras do Príncipe”, “ O Gato Félix”, “Cara de Coruja”, “ O Irmão de Pinóquio”, “O Circo de Escavalinhos”, “Pena de Papagaio” e “O Pó de Pirlimpimpim”.
Numa casinha branca, lá no Sítio do Picapau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando:
-Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto...
Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas - Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.
Na casa ainda existem duas pessoas - tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira.
Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas, muito apressadinhas e mexeriqueiras, correm por entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as “tias Nastácias do rio”.
Todas as tardes Lúcia toma a boneca e vai passear à beira d’água, onde se senta na raiz dum velho ingazeiro para dar farelo de pão aos lambaris.
Não há peixe do rio que a não conheça; assim que ela aparece, todos acodem numa grande faminteza. Os mais miúdos chegam pertinho; os graúdos parece que desconfiam da boneca, pois ficam ressabiados, a espiar de longe. e nesse divertimento leva a menina horas, até que tia Nastácia apareça no portão do pomar e grite na sua voz sossegada:
- Narizinho, vovó está chamando!...
(LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. 11ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1962. p. 3-4
Mergulho no texto:
1. relacione cada personagem a sua característica.
( ) Dona Benta ( ) Olhos de retrós
( ) Narizinho ( ) Negra de estimação
( ) Tia Nastácia ( ) Costuma usar óculos de ouro na ponta do nariz
( )Emília ( ) Morena como jambo
( ) Parece uma bruxa
2. Qual dos moradores do Sítio do Picapau Amarelo é a personagem principal?
3. Narizinho chama as pedras do ribeirão de "tias Nastácias". O que há de comum entre as pedras e tia Nastácia?
4. Leia as frases a seguir e marque aquela que indica o objetivo principal do autor do texto.
a) O objetivo do autor é descrever o Sítio do Picapau Amarelo.
b) O objetivo do autor é contar o que pensam as pessoas que passam pela estrada.
c) O objetivo do autor é descrever as pessoas que moram no Sítio do Picapau Amarelo.

Que mistério é esse?

O MISTÉRIO DO COELHO PENSANTE


Jovens leitores

Esta história só serve para criança que simpatiza com coelho. Foi escrita a pedido-ordem de Paulo, quando ele era menor e ainda não tinha descoberto simpatias mais fortes. O mistério do coelho pensante é também minha discreta homenagem a dois coelhos que pertenceram a Pedro e Paulo,meus filhos. Coelhos aqueles que nos deram muita dor de cabeça e muita surpresa de encantamento. Como a história foi escrita para exclusivo uso doméstico, deixei todas as entrelinhas para as explicações orais. Peço desculpas a pais e mães, tios e tias, e avós, pela contribuição forçada que serão obrigados a dar. Mas pelo menos posso garantir, por experiência própria, que a parte oral desta história é o melhor dela. Conversar sobre coelho é muito bom. Aliás, esse “mistério” é mais uma conversa íntima do que uma história. Daí ser muito mais extensa que o seu aparente número de páginas. Na verdade só acaba quando a criança descobre outros mistérios.
C.L.

Pois olhe, Paulo, você não pode imaginar o que aconteceu com aquele coelho. Se você pensa que
ele falava, está enganado. Nunca disse uma só palavra na vida. Se pensa que era diferente dos
outros coelhos, está enganado. Para dizer a verdade, não passava de um coelho. O máximo que se pode dizer é que se tratava de um coelho muito branco.
Por isso tudo é que ninguém nunca imaginou que ele pudesse ter algumas idéias. Veja bem: eu
nem disse “muitas idéias”, só disse “algumas”. Pois olhe, nem de algumas achavam ele capaz.
A coisa especial que acontecia com aquele coelho era também especial com todos os coelhos do
mundo. É que ele pensava essas algumas idéias com o nariz dele. O jeito de
pensar as idéias dele era mexendo bem depressa o nariz. Tanto franzia e desfranzia o nariz que o
nariz vivia cor-de-rosa. Quem olhasse podia achar que pensava sem parar. Não é verdade. Só o
nariz dele é que era rápido, a cabeça não. E para conseguir cheirar uma só idéia, precisava franzir
quinze mil vezes o nariz.
Pois bem. Um dia o nariz de Joãozinho — era assim que se chamava esse coelho — um dia o
nariz de joãozinho conseguiu farejar uma coisa tão maravilhosa que ele ficou bobo. De pura alegria, seu coração bateu tão depressa como se ele tivesse engolido muitas borboletas. Joãozinho disse para ele mesmo:
— Puxa, eu não passo de um coelho branco, mas acabo de cheirar uma idéia tão boa que até
parece idéia de menino!
E ficou encantado. A idéia que tinha cheirado era tão boa quanto o cheiro de uma cenoura fresca.
Joãozinho começou então a trabalhar nessa idéia. E para isso precisou mexer tanto o nariz que
dessa vez o nariz ficou quase vermelho. Coelho tem muita dificuldade de pensar, porque ninguém
acredita que ele pense. E ninguém espera que ele pense. Tanto que a natureza do coelho até já se
habituou a não pensar. E hoje em dia eles todos estão conformados e felizes. A natureza deles é
muito satisfeita: contanto que sejam amados, eles não se incomodam de ser burrinhos.
Como eu ia contando, Joãozinho começou a trabalhar na idéia. A idéia era a seguinte: fugir da casinhola todas as vezes que não houvesse comida na casinhola.
Mas o problema era o seguinte: como é que ia poder sair lá de dentro?
A casinhola tinha grades muito estreitas, e joãozinho, além de branco, era gordo. É claro que não
podia passar pelas grades. O único modo de se abrir a casinhola era levantando o tampo. E
o tampo, Paulo, era de ferro pesado, só gente é que sabia levantar.
Durante dois dias Joãozinho franziu e desfranziu o nariz milhares de vezes para ver se cheirava a solução. E a idéia finalmente veio. Dessa vez, Paulo, foi uma idéia tão boa que nem mesmo criança, que tem idéias ótimas, pode adivinhar.
A idéia foi a seguinte: ele descobriu como sair da casinhola. E, se bem pensou, melhor
fez. De repente os donos do coelho viram o coelho na calçada, gritaram, correram atrás dele,
chamaram as outras crianças da rua — e todas juntas cercaram Joãozinho e finalmente conseguiram prendê-lo de novo.

Você na certa está esperando que eu agora diga qual foi o jeito que ele arranjou para sair de lá.
Mas aí é que está o mistério: não sei!
E as crianças também não sabiam. Porque, como eu lhe disse, o tampo era de ferro pesado. Pelas
grades? Nunca! Lembre-se de que Joãozinho era um gordo e as grades eram apertadas.
Enquanto isso, as crianças, que não têm natureza boba, foram notando que o coelho branco só
fugia quando não havia comida na casinhola. De modo que nunca mais se esqueceram de encher o
prato dele. E a vida, para aquele coelho branco, passou a ser muito boa. Comida era o que não lhe
faltava.
LISPECTOR, Clarice. O mistério do coelho pensante. 2ª ed. Rio de Janeiro, Rocco, 1976. p. 3-4 (Adaptação)
Mergulho no texto:
1. O coelho guardava consigo um mistério. Qual?
2. O coelho teve uma ideia; a ideia trouxe um problema; o problema trouxe uma solução.
a) Qual foi a ideia?
b) Qual foi o problema?
c) Qual foi a solução?
3. Para conseguir seu objetivo, o coelho fugia todas as vezes que não havia comida na casinhola. Afinal, qual era o objetivo de Joãozinho?
4. Releia a seguinte frase do 3º parágrafo do texto:
"Por isso tudo é que ninguém nunca imaginou que ele pudesse ter algumas ideias."
Ao iniciar o parágrafo com "por tudo isso", a autora está nos dizendo que é por causa de duas razões: a primeira razão é que o coelho não falava.
Encontre agora qual é a segunda razão.
5. A autora diz que os coelhos t~em dificuldade de pensar; leia as afirmativas a seguir e circule aquela que diz por que os coelhos têm essa dificuldade.
a) Ninguém acredita nem espera que eles pensem.
b) São conformados e felizes.
c) Só querem ser amados.
d) Não se importam de ser burrinhos.
6. Observe a frase:
"A ideia que (o coelho) tinha cheirado era tão boa quanto o cheiro de uma cenoura fresca."
Explique a comparação feita pela autora na frase acima.