segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cinco textos paradidáticos


E se a gente vivesse em Marte?

Não haveria raças diferentes, a fauna e a flora seriam menos diversificadas e nosso corpo seria coberto por pelos.

O mundo seria um mundinho. Marte é bem menor do que a Terra. Para piorar, um oceano se estenderia por quase todo o hemisfério norte e um pedaço do sul - o planeta era assim há bilhões de anos, segundo um estudo da Universidade do Colorado. E só nessas condições poderíamos viver por lá, já que precisamos de água. No fim das contas, a área habitável equivaleria a 18% da superfície da Terra. Seria um sufoco dividir esse espaço. Para manter os padrões terráqueos - uma densidade de 13 habitantes por quilômetro quadrado -, somaríamos apenas 2 bilhões em Marte (e não 6,8 bilhões, como hoje na Terra).
Para a vida se desenvolver, é preciso água, carbono e nitrogênio. Somando um planeta estável e luz solar, apareceriam as primeiras formas de vida. Em Marte, elas seriam parecidas (senão idênticas) às que surgiram na Terra. Teríamos, no entanto, fauna e flora pouco diversificadas. Um dos principais incentivos para a evolução é o isolamento de grupos da mesma espécie, o que leva um dos grupos a se diferenciar do outro com o tempo. Em um mundo de um só continente, essa separação não aconteceria. E novas espécies não surgiriam com tanta frequência. O resultado seria um planeta pobre em plantas e animais. 

Haveria algumas diferenças importantes no nosso modo de vida. Faz mais frio em Marte do que na Terra. E a gravidade lá é só 1/3 da terráquea. Voar seria mais fácil: muitos animais desenvolveriam asas ao longo da evolução, e viajar de avião seria mais barato e prático. Para completar, se todo mundo vivesse tanto quanto hoje, a expectativa média seria de 35 anos. Calma, a gente não morreria mais cedo. É que um ano lá tem 668 dias marcianos, ou 687 dias terrestres. 


Alô, alô, marciano 

 Um só povo
Marte teria um único continente cercado por oceanos (ou seja, seria um planeta azul, e não vermelho). Isso influenciaria o desenvolvimento da humanidade. Sem barreiras naturais, não haveria diferenças raciais e culturais na população. Seríamos parecidos e falaríamos a mesma língua em todo o planeta. 

Pra onde tenha sol
Por causa da órbita de Marte e de sua inclinação em relação ao Sol, primavera e verão são mais longos no hemisfério norte do que no hemisfério sul. No norte, são 296 dias de frio glacial (contando outono e inverno). No sul, 372. Seria comum ver gente viajar de jatinho pra se bronzear no outro hemisfério. 

Homo Tonyramus
A evolução é imprevisível, não dá para saber exatamente como seríamos. Mas provavelmente teríamos pelos grossos pra aguentar o friozinho. Como está mais distante do Sol, Marte recebe só metade da luz que temos na Terra. Já a gravidade menor ajudaria a manter seu bumbum durinho por mais tempo. 

Corrida espacial
Marte não tem um satélite como a Lua, que protege a Terra de asteroides e regula sua velocidade e eixo de rotação. Perigo: Marte é mais vulnerável a extinções em massa. Precisaríamos buscar outros planetas para colonizar. Uma opção seria um planeta vizinho, o terceiro em distância do Sol, chamado Terra. 

No, não temos bananas
Esqueça coco, jabuticaba, manga. Plantas de grande porte não nasceriam em um planeta com pouca luz, e muitas das nossas frutas (como a banana) dependem de clima tropical. Mas poderíamos cultivar legumes e verduras. E comer carne, principalmente de aves, já que elas existiriam em abundância. 

Jogos Olímpicos
Marte tem o monte Olimpo. É a maior montanha do Sistema Solar: 22 quilômetros de altura. Desafio e tanto pra quem quisesse subir ao topo, mas a menor gravidade ajudaria. Em um mundo onde tudo é mais leve, teríamos mais estímulo para praticar esportes como alpinismo e voo livre.

Fontes: The World Factbook - CIA; Nasa; Nasa Astrobiology Institute; Planetary Society; Departamento de Geologia - Universidade do Colorado; ESA - Agência Espacial Europeia


Superinteressante. Março 2011.







O poder dos insetos

Eles usam armadilhas, camuflagens, armas químicas e biológicas para atacar e se defender. Graças a esse arsenal, matam mais humanos do que qualquer outro animal (exceto aquele chamado homem)

POPULAÇÃO 

No mundo, o total estimado de insetos é de 10 quintilhões - 10.000.000.000.000.000.000 

165 milhões por pessoa 

E eles são...

50% de todos os seres vivos 

90% de todos os animais 

Estão divididos em 30 milhões de espécies, segundo as estimativas mais exageradas. 


SUPERPODERES 

150x o tamanho do próprio corpo é quanto uma pulga pode saltar. Seria como um humano pular a altura de 85 andares. 

360 graus é quanto o louva-a-deus gira a própria cabeça. 

50x o comprimento do próprio corpo é a distância a que o percevejo assassino consegue cuspir seu veneno. 

300 km/h velocidade que o homem atingiria se corresse como a barata, que faz 70 centímetros por segundo. 

850x o próprio peso É o que o besouro-hércules consegue levantar - o mesmo que um humano erguer 60 toneladas, ou dois Boeing 737. 

30 mil lentes. É o número em cada olho de uma libélula.


ELES X NÓS 

1 em cada 17 mortes é causada por veneno de insetos ou doenças transmitidas por eles. 

50 mortes são causadas por picada de abelha nos EUA por ano. 

1 em cada 6 pessoas está contaminada com alguma doença transmitida por mosquitos. 

8 milhões de pessoas ficam cegas por ano por tracoma, disseminado por insetos. 

2 milhões é o número de mortes anuais por malária, transmitida por mosquitos.


O MAIOR INSETO QUE JÁ EXISTIU 

Foi uma libélula de espécie já extinta. Ela tinha 1 metro de comprimento. 


O MAIOR INSETO DO MUNDO 

É o besouro gigante (Titanus giganteus) que vive na Amazônia. Ele tem 17 centímetros. 


O MENOR INSETO DO MUNDO 

É o Megaphragma caribea, uma mosquinha que vive em alguns países do Caribe. Ela tem 0,17 milímetro


ARMAS 

Fedor - Joaninhas, barbeiros e besouros exalam um cheiro que dá nojo, para não serem comidos. 

Fricção - Abelhas asiáticas aquecem vespas inimigas esfregando o corpo nelas. As vespas morrem assadas. 

Ardência - O besouro bombardeiro junta duas partes do corpo para lançar um líquido que arde como fogo. 

Dor - Varia de leve (mosquito) a extrema (taturanas) e quase insuportável (vespas).


Fontes Organização Mundial da Saúde (OMS); Smithsonian Institute; Australian Biological Resources Study; Instituto de Biologia da Unicamp; Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo; Centro de Informações em Saúde para Viajantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Confederação Brasileira de Apicultura.

Superinteressante – junho de 2011







Saiba mais sobre a Lua

Bolas de golfe, sacos de xixi e jipes. Tudo isso está espalhado na Lua. E tem mais: oxigênio, água e um combustível precioso também estão em abundância no nosso satélite - que, aliás, garante a nossa sobrevivência aqui na Terra

Pedaços de nós
Há 4,45 bilhões de anos, um planeta do tamanho de Marte chamado Theia colidiu com a Terra, foi destruído e rompeu partes da camada mais externa do nosso planeta. Foi desses |destroços que nasceu a Lua. Ela é 95% de rocha igualzinha às que estão aqui. Foi o que descobriram os cientistas ao analisar amostras lunares
Lar, doce lar

A Nasa comprova: há gelo nos polos lunares dentro de crateras que não pegam sol. Mas a grande descoberta é a água em estado líquido - quer dizer, moléculas de água. E também de um mineral lunar capaz de gerar oxigênio: a ilmenita, um óxido de titânio que, se exposto ao calor, libera oxigênio. E a Lua está pronta para virar nossa casa: tem água, oxigênio e combustível.


Bugigangas

Na primeira viagem à Lua, ficaram por lá uma bandeira americana, uma placa de metal, jipes, câmeras e tripés que transmitiram as imagens do solo lunar. Em 1971 foram deixadas para trás duas bolas de golfe jogadas por Alan Shepard. Também há alguns objetos dos astronautas, como roupas, botas, ferramentas e até sacos de xixi. Estima-se que eles levaram 382 quilos de pedras lunares e que essa mesma quantidade de objetos (lixo?) foi abandonada.


Fita métrica

Espelhos refletores em solo lunar foram direcionados para a Terra para medir a distância até lá: basta disparar um laser daqui e fazer um cálculo do tempo de retorno da luz. Assim se tornou possível medir a distância exata da Lua: 384 000 km. São quase 10 viagens de ida e volta ao Japão. Os espelhos, aliás, comprovam outra coisa ainda mais importante: que de fato estivemos na Lua.


Vida na terra

Saber a distância certa até a Lua fez com que os astronautas percebessem algo estranho: |todos os anos ela se afasta 3,8 cm de nós. Mas há um problema: quanto mais longe está a Lua, mais devagar a Terra gira. Em 1 milhão de anos teremos dias com 26 horas, e em 15 bilhões a Terra para. Um lado pegará fogo, e o outro congelará. Mas não se preocupe: em 1 bilhão de anos o Sol estará 10% mais quente e a Terra será um forno sem água, vida ou nem mesmo Lua. 


Fontes NASA, Amaury Augusto de Almeida, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica, Ciências Atmosféricas da USP, Denis Zogbi, astrônomo e secretário geral do Clube de Astronomia de São Paulo.

Superinteressante – maio de 2011



E se a gente usasse 100% do cérebro?

O que aconteceria se a gente usasse 100% do cérebro?

por Bruna Maia e Ivan Martínez

Na verdade, a gente até usa. Só que não 100% dos 100%. Um ato tão simples quanto conversar com o colega ao lado pode ativar todas as áreas do cérebro. Mas só uma parte do potencial de cada uma. Se todas as áreas funcionassem em potência máxima, e ao mesmo tempo, teríamos uma capacidade de digerir informações, sensações e pensamentos muito maior. 

É como um computador: usando todos os seus recursos, o cérebro teria muito mais capacidade de processamento. Não ganharíamos superpoderes. Mas quebrar códigos, tirar conclusões e analisar situações seriam tarefas muito mais fáceis. Como não existe registro de homem que tenha vivido com essa supermáquina na cabeça, a referência mais próxima são os superdotados, que têm maior capacidade de raciocínio. "Eles relacionam informações e formam conexões com mais facilidade", diz a psicóloga Cristiane Cruz, presidente da Mensa Brasil, associação que busca reunir os 2% mais inteligentes do país. Ou seja, seríamos todos superdotados - e ainda mais poderosos. 

Ainda assim, ninguém seria bom em absolutamente tudo. Alguns teriam facilidade para música, outros para física. "Mesmo mais inteligentes, continuaríamos sendo diferentes um do outro desde o nascimento, porque os genes de cada um interferem na inteligência", diz Ailton Amélio, professor de psicologia da USP. Há algo, no entanto, que seria comum a todos: nosso cérebro ficaria cansado de tanto trabalho. E, exatamente como um computador, daria pau de vez em quando, nos deixando com uma bela dor de cabeça. 


De pirar o cabeção 

A vida com um cérebro em modo máximo 


Deu branco 

Áreas estimuladas do cérebro gastam 1% mais energia do que as em repouso. Esse trabalho extra resultaria em uma canseira mental. E o cérebro pifaria vez ou outra, nos dando dor de cabeça e brancos na memória. 


Asas à imaginação 

A criatividade correria solta e ninguém ficaria preso a uma única área. Seríamos como Leonardo da Vinci: ele pintou quadros, estudou o corpo e inventou geringonças. A inovação caminharia mais rápido. 


Bipolares 

O tamanho de certas áreas do cérebro está ligado a traços da personalidade. Intensificar a atividade delas seria exacerbar esses traços. Tímidos nem sairiam de casa. Extrovertidos seriam uns palhaços. 


Razão e insensibilidade 

Usaríamos a lógica para calcular todas as consequências de nossos atos. E as consequências das consequências. Uma pesquisa com superdotados mostrou que 87,5% dos participantes eram perfeccionistas. Como eles, sofreríamos buscando sempre a melhor escolha. 


Multitaskeando 

Concentrar-se em uma só coisa seria difícil. Ficaríamos o tempo todo ligados, mudando de uma atividade para outra. É o que acontece com os superdotados - 76% deles se mostraram hiperativos em um estudo brasileiro, enquanto na população essa parcela é de só 5%. 


Fontes Mensa Brasil; Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP); Alexandre Valotta, neurocientista e professor da Universidade Federal de São Paulo; Testing Predictions from Personality, Neuroscience: Brain Structure and the Big Five, de Colin G. DeYoung e outros; Voices of Perfectionism: Perfectionistic Gifted Adolescents in a Rural Middle School, de Patricia A. Schuler.




Superinteressante - agosto de 2011





A irmã da Terra

A descoberta de um planeta muito parecido com o que habitamos abre uma possibilidade espetacular: a existência de vida extraterrestre

Há apenas vinte anos, não existia comprovação da existência de planetas fora do sistema solar. Com o avanço da tecnologia de observação do espaço, os astrônomos já conseguiram descobrir quase 500 deles no universo. São os chamados exoplanetas. Na semana passada, dois cientistas americanos anunciaram a descoberta do exoplaneta que, entre todos os já avistados, guarda maior similaridade com a Terra. Batizado de Gliese 581g, ele órbita em torno da estrela Gliese 581, na constelação de Libra. “Seu tamanho, força de gravidade e variação de temperatura na superfície fazem dele um astro muito parecido com o planeta que habitamos”, disse a VEJA o astrônomo Steven Vogt, da Universidade da Califórnia, um dos autores da descoberta. O Gliese 581g foi avistado depois de onze anos de observações. Os pesquisadores também cruzaram seus dados com os da equipe de astrônomos suíços que, há três anos, descobriu quatro planetas orbitando a Gliese 581. Em um deles, identificaram-se semelhanças com a Terra, mas o astro agora descoberto pode ser considerado um irmão de nosso planeta.
O Gliese 581g orbita seu sol na região que, em astronomia, se chama zona habitável de um sistema estelar. Nessa região, um planeta recebe calor na quantidade exata para permitir a existência de água em estado líquido em sua superfície. É possível, portanto, que o Gliese 581g abrigue alguma forma de vida – mas dificilmente se poderá saber. O planeta está localizado a 20 anos-luz da Terra, o equivalente a 190 trilhões de quilômetros. A distância é pequena para os padrões cósmicos, mas impossível de ser percorrida por uma nave espacial, muito menos por uma nave tripulada. Uma viagem a Gliese 581g num dos ônibus espaciais da Nasa levaria 766000 anos, quatro vezes o tempo que o Homo sapiens habita a Terra.
A Gliese 581 é uma estrela anã vermelha, um astro de luminosidade inferior à do Sol e está na metade de sua vida – deve brilhar por “apenas” mais 5 bilhoes de anos. Até a descoberta de seu sistema, nenhum dos exoplanetas observados apresentava condições adequadas para abrigar vida da forma que a conhecemos. Eles são, na maioria, imensas bolas de gases venenosos com força gravitacional colossal. O Gliese 581g abre uma nova fronteira na astrofísica.

Alexandre Salvador. Veja, ed. 2185 – ano 43 – nº 40 – 6 de outubro de 2010.