Este é o texto da Avaliação Global - 3º bimestre 2011
Terminada
a guerra de Troia, que durou dez anos, Odisseu e seus companheiros saem em
direção a Ítaca. No mar, a esquadra
inicial é de doze navios. São muitas as
perdas no caminho... No único navio que
resta, chegam à ilha de Circe. A feiticeira,
que sabia da existência de Odisseu e esperava por ele, promete ajudá-lo a sair
da ilha, desde que viva com ela por um mês.
Passa-se um ano, e é preciso que Polites lembre Odisseu de que já se
demoraram demais ali. É exatamente desse
momento da história que fala o texto a seguir.
Um vivo entre os mortos
O mês se tornou uma
estação. A estação se estendeu a um
ano. E somente então é que Odisseu
voltou a pensar em seu reino de três ilhas.
A vida com Circe era tão doce quanto a fruta do lótus: era capaz de
levar um homem a esquecer seu lar e sua família. Então seu melhor amigo, Polites,
veio até ele e disse:
¾
A memória de Posêidon pode ser longa ou pode ser curta, mas a sua, Odisseu, já
o abandonou totalmente se você tiver esquecido sua bela rainha. Seus homens têm mulheres e filhos, também, e
já estivemos longe deles, agora, por mais de onze anos!
Assim, Odisseu foi
até Circe e abraçou-a como que para se desculpar, dizendo:
¾
É tempo de partir. Um ano atrás, você
prometeu que me enviaria a um lugar onde poderei conhecer o caminho para casa e
o segredo das coisas por vir. Quem é
esse oráculo? Onde o encontrarei?
Circe mordeu o lábio
inferior e cerrou os punhos:
¾
Muito bem. Eu lhe direi. Estava escrito, desde que nasci, que eu o
amaria e o perderia. Mas as orientações
que lhe darei não lhe agradarão. Talvez
você não ouse segui-las.
¾
Não se atreva, senhora! Eu sou Odisseu,
rei de Ítaca, herói de Troia, cujas façanhas...
¾
Sim, sim... Tudo bem. Sua trilha tem de passar pelas sombras do
mundo inferior. Lá, entre os espíritos dos mortos, você encontrará o oráculo
Tirésias. Ele pode lhe dizer o que já
houve e o que há de haver, e também o que é verdadeiro.
¾
Não! ¾
gritou Odisseu. Pôs as mãos sobre
os ouvidos e apertou bem os olhos. ¾ Não! Não! Não! Retire o que disse,
Circe! Veja como estou tremendo! Veja
como o suor escorre do meu rosto! Retire
o que disse, Circe, ou transformará num covarde um homem que encarou a morte
nos olhos cinquenta vezes e nunca vacilou!
Descer ao mundo inferior antes de minha hora? Esfregar meu rosto no de fantasmas na
escuridão sem fim? Zeus! O coração de um
homem se despedaçaria! Não! Nunca!
Não!
Circe
permanecia calada, e seus olhos se deliciaram com a ideia de que Odisseu agora
ficaria com ela para sempre. Ele se
atirou no divã branco da feiticeira e uivou como um lobo por mais de uma hora. Em seguida, ficou de pé, respirou fundo três
vezes, endireitou os ombros e rumou para a praia, onde seus homens dormiam
junto ao navio.
¾
A bordo, homens! A bordo, já, e eu
comandarei o leme! Circe, a feiticeira,
me explicou nosso caminho para casa, e é tempo de içar velas!
Enquanto
o casco do veloz navio negro de proa vermelha era arrastado pela areia branca e
suas pranchas secas inchavam ao toque do mar, Circe desceu correndo até a praia
e penetrou nas ondas até a água lhe tocar os joelhos.
¾
Que os deuses olhem por você, Odisseu!
Dirija o navio no rumo do sol poente.
Ali o rio Oceano puxará vocês sem necessidade de remar. Firme o leme e faça um sacrifício a Hades, o
deus dos mortos.
Odisseia,
Homero. Ed.
Ática, col. O tesouro dos clássicos
juvenil, págs. 61-63.