sexta-feira, 31 de julho de 2009
Foram retirados os acentos das palavras proparoxítonas no texto abaixo. Vamos encontrá-los? Dica: São 41 palavras.
Amou daquela vez como se fosse a ultima
Beijou sua mulher como se fosse a ultima
E cada filho seu como se fosse o unico
E atravessou a rua com seu passo timido
Subiu a construção como se fosse maquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho magico
Seus olhos embotados de cimento e lagrima
Sentou pra descansar como se fosse sabado
Comeu feijão com arroz como se fosse um principe
Bebeu e soluçou como se fosse um naufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse musica
E tropeçou no céu como se fosse um bebado
E flutuou no ar como se fosse um passaro
E se acabou no chão feito um pacote flacido
Agonizou no meio do passeio publico
Morreu na contramão atrapalhando o trafego
Amou daquela vez como se fosse o ultimo
Beijou sua mulher como se fosse a unica
E cada filho como se fosse o prodigo
E atravessou a rua com seu passo bebado
Subiu a construção como se fosse solido
Ergueu no patamar quatro paredes magicas
Tijolo com tijolo num desenho logico
Seus olhos embotados de cimento e trafego
Sentou pra descansar como se fosse um principe
Comeu feijão com arroz como se fosse o maximo
Bebeu e soluçou como se fosse maquina
Dançou e gargalhou como se fosse o proximo
E tropeçou no céu como se ouvisse musica
E flutuou no ar como se fosse sabado
E se acabou no chão feito um pacote timido
Agonizou no meio do passeio naufrago
Morreu na contramão atrapalhando o publico
Amou daquela vez como se fosse maquina
Beijou sua mulher como se fosse logico
Ergueu no patamar quatro paredes flacidas
Sentou pra descansar como se fosse um passaro
E flutuou no ar como se fosse um principe
E se acabou no chão feito um pacote bebado
Morreu na contramão atrapalhando o sabado
Extraído do CD Chico Buarque - Minha história.
Chega uma hora
em que não dá mais
pra gente fugir do assunto.
Meio mundo da família,
pai e mãe, irmão e tia,
com olhares de cobrança,
pedem o troco da esperança
que jogaram sobre nós.
E então começa a guerra.
É a equação conjugada
em português matemático,
são matérias inexatas
e ciências desumanas.
É a cara da professora
que brigou com o namorado.
São as noites mal dormidas
de estudo ou de medo.
É o tormento renovado
do semestre que se acaba
ou do ano que termina.
Tempo de unha roída,
de culpa e de sofrimento.
Coração sempre apertado,
dias com dor de barriga,
noites com falta de ar.
A vida fica um sufoco
até a hora temida
em que a angústia vira nota.
Amanhã...hoje...agora!
O olhar sabe de cor
onde o nome está na lista.
E então...lá vamos nós
com a cara e a covardia.
Um, dois, três...não acredito!
Aquela nota é um oito!
Não é possível, meu Deus!
É possível! É possível!
Aquele oito sou eu!
Carlos Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo, Moderna, 1990. p.28-29.
Adaptação feita por Pedro Bandeira de trecho teatral "A raposa e as uvas", de Guilherme de Figueiredo.
o ônibus roncava na subida
e como era difícil o amor de Mariana,
de blusa rala e jeans apertado!
A viagem nem tinha começado
e eu ali, em meio ao vozerio, cantava
batendo nos bancos,
e a professora pedia um pouco de silêncio
pelo amor de
Deus, vou ficar surda,
e a turma batucava e batucava
e batucava no meu peito
um coração pedindo estrada
e tu, nem te ligo,
conversavas com Luísa, ajeitando uma rosa branca
nos teus cabelos lisos,
ô Mariana, vê se me vê, pô, estou aqui,
louco de você, e me calava,
ouvindo o ônibus cheio de amor pela estrada
que diante dele se torcia
machucada.
Sérgio Caparelli
Você já contou estrelas?
E nuvens? E passarinhos?
Já contou quantos dedinhos
têm os pés da centopeia?
Já contou quantas histórias
cabem dentro das ideias?
Já pensou quantas bestagens
podem ser inteligentes?
Já contou quantos gemidos
cabem numa dor de dente?
Já pensou quantas mentiras
escondem certa verdade?
Quantas grades e gaiolas
trancam nossa liberdade?
A poesia é uma pulga. Sylvia Orthof.
Fingir que não vimos... Até quando?
Pra falar a verdade,
nunca tive um pijama.
Pra quê,
se nunca tive cama?
Verdade verdadeira,
nunca tive um brinquedo.
Apenas tive medo.
Mas hoje há tanto frio,
tanta umidade,
que invento um cobertor
de sol poente
e um pijama de sonho
em cama quente.
É bom brincar de gente.
Maria Dinorah
Na multidão busco meu amor
ainda anônimo
seu rosto que não conheço
entre tantos rostos
a voz que acenderá estrelas
e que ainda é uma voz qualquer
busco meu amor oculto
como em segredo entre as folhagens
e meu coração dispara
a cada indício do seu rastro
busco meu amor como a chave
de um castelo
esquecida há milênios
em algum lugar obscuro
do mundo
busco meu amor desconhecido
como quem busca algodão
num campo imenso
para se forrar por dentro.
Fruta no ponto, Roseana Murray.
Eu sei que ela é como eu.
Afinal, a gente se conhece
desde o dia em que nasceu.
Pai vizinho, mãe comadre,
mesma rua, mesma infância,
mesma turma, mesma escola.
Eu sei que ela é como eu.
Brinquedos e jogos iguais,
passeios de bicicleta,
aventuras de quarteirão.
Repartidas descobertas,
segredos a quatro mãos.
Eu sei que ela é como eu.
E sei também, por saber
de ideia e de coração,
que por mais que ela disfarce
gosta de mim pra valer,
não como amiga ou irmã.
Então por que (eu pergunto)
faz de conta não querer
ser a minha namorada?
Sendo assim tão como eu
não é justo me trocar
por um idiota grandão,
só porque eu não sou mais velho
do que a nossa emoção.
Carlos Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo, Moderna, 1990.p.55.
A descoberta das minas de diamante, no Brasil, deu origem a diversas lendas. Vejamos uma das mais interessantes:
Vivia o casal tranquilo e venturoso, quando rebentou uma guerra contra uma tribo vizinha. Itagibá teve de partir para a luta. E foi com profundo pesar que se despediu da esposa querida e acompanhou os outros guerreiros. Potira não derramou uma só lágrima, mas seguiu, com os olhos cheios de tristeza, a canoa que conduzia o esposo, até que a mesma desapareceu na curva do rio.
Passaram-se muitos dias sem que Itagibá voltasse à taba. Todas as tardes, a índia esperava, à margem do rio, o regresso do esposo amado. Seu coração sangrava de saudade. Mas permanecia serena e confiante, na esperança de que Itagibá voltaria à taba.
Finalmente, Potira foi informada de que seu esposo jamais regressaria. Ele havia morrido como um herói, lutando contra o inimigo. Ao ter essa notícia, Potira perdeu a calma que mantivera até então e derramou lágrimas copiosas.
Vencida pelo sofrimento, Potira passou o resto de sua vida, à beira do rio, chorando sem cessar. Suas lágrimas puras e brilhantes misturaram-se com as areias brancas do rio.
A dor imensa da índia impressionou Tupã, o rei dos deuses. E este, para perpetuar a lembrança do grande amor de Potira, transformou suas lágrimas em diamantes. Daí a razão pela qual os diamantes são encontrados entre os cascalhos dos rios e regatos. Seu brilho e sua pureza recordam as lágrimas de saudade da infeliz Potira.
Theobaldo Miranda Santos. *Lendas e mitos do Brasil*. São Paulo. Ed. Nacional, 1987. p. 140-1.
Doutor mestre pensamento
me disse um dia: - Você
Camilo vá visitar
o país São Saruê
pois é o lugar melhor
que neste mundo se vê.
Eu que desde pequenino
sempre ouvia falar
neste tal São Saruê
destinei-me a viajar
com ordem do pensamento
fui conhecer o lugar.
Iniciei a viagem
às quatro da madrugada
tomei o carro da brisa
passei pela alvorada
junto do quebrar da barra
eu vi a aurora abismada.
Pela aragem matutina
eu avistei bem defronte
a irmã linda aurora
que se banhava na fonte,
já o sol vinha espargindo
no além do horizonte.
Surgiu o dia risonho
na primavera imponente
as horas passavam lentas
o espaço incandescente
transformava a brisa mansa
em um mormaço dolente.
Passei do carro da brisa
para o carro do mormaço
o qual veloz penetrou
no além do grande espaço
nos confins do horizonte
senti do dia o cansaço.
Enquanto a tarde caía
entre mistério e segredos
a viração docilmente
afagava os arvoredos,
os últimos raios do sol
bordavam os altos penedos.
Morreu a tarde e a noite
assumiu sua chefia
deixei o mormaço e passei
pro carro da neve fria
vi os mistérios da noite
esperando pelo dia.
Ao surgir da nova aurora
senti o carro pairar
olhei e vi uma praia
sublime de encantar
o mar revolto banhando
as dunas da beira mar.
Avistei uma cidade
como nunca vi igual
toda coberta de ouro
e forrada de cristal
ali não existe pobre
é tudo rico em geral.
Uma barra de ouro puro
servindo de placa eu vi
com as letras de brilhante
chegando mais perto eu li
dizia: - São Saruê
é este lugar aqui.
Quando avistei o povo
fiquei de tudo abismado
uma gente alegre e forte
um povo civilizado
bom, tratável e benfazejo
por todos fui abraçado.
O povo em São Saruê
tudo tem felicidade
passa bem, anda decente
não há contrariedade
não precisa trabalhar
e tem dinheiro à vontade.
Lá os tijolos das casas
são de cristal e marfim
as portas barras de prata
fechaduras de "rubim"
as telhas folhas de ouro
e o piso de cetim.
Lá eu vi rios de leite
barreiras de carne assada
lagoas de mel de abelha
atoleiros de coalhada
açudes de vinho do porto
montes de carne guisada.
As pedras em São Saruê
são de queijo e rapadura
as cacimbas são café
já coado e com quentura
de tudo assim por diante
existe grande fartura.
Feijão lá nasce no mato
maduro e já cozinhado
o arroz nasce nas várzeas
já prontinho e despolpado
peru nasce de escova
sem comer vive cevado.
Galinha põe todo dia
invés de ovos é capão
o trigo invés de sementes
bota cachadas de pão
manteiga lá cai das nuvens
fazendo ruma no chão.
Os peixes lá são tão mansos
com o povo acostumados
saem do mar vêm pras casas
são grandes, gordos e cevados
é só pegar e comer
pois todos vivem guisados.
Tudo lá é bom e fácil
não precisa se comprar
não há fome nem doença
o povo vive a gozar
tem tudo e não falta nada
sem precisar trabalhar.
Maniva lá não se planta
nasce e invés de mandioca
bota cachos de beiju
e palmas de tapioca
milho a espiga é pamonha
e o pendão é pipoca.
As canas em São Saruê
não têm bagaço (é gozado)
umas são canos de mel
outras açúcar refinado
as folhas são cinturão
de pelica e bem cromado.
Lá os pés de casimira
brim, borracha e tropical
de naycron, belga e linho
e o famoso diagonal
já bota as roupas prontas
próprias para o pessoal.
Os pés de chapéu de massa
são tão grandes e carregados
os de sapatos da moda
têm cada cacho "aloprado"
os pés de meias de seda
chega vive "escangalhado".
Sítios de pés de dinheiro
que faz chamar atenção
os cachos de notas grandes
chega arrastam pelo chão
as moitas de prata e ouro
são mesmo que algodão.
Os pés de notas de mil
carrega chega encapota
pode tirar-se à vontade
quanto mais tira mais bota
além dos cachos que tem
casca e folha tudo é nota.
Lá quando nasce um menino
não dá trabalho a criar
Já é falando e já sabe
ler, escrever e contar
salta, corre, canta e faz
tudo quanto se mandar.
Lá não se vê mulher feia
e toda moça é formosa
bem educada e decente
bem trajada e amistosa
é qual um jardim de fadas
repleto de cravo e rosa.
Lá tem um rio chamado
o banho da mocidade
onde um velho de cem anos
tomando banho à vontade
quando sai fora parece
ter vinte anos de idade.
É um lugar magnífico
onde eu passei muitos dias
bem satisfeito e gozando
prazer, saúde, alegrias
todo esse tempo ocupei-me
em recitar poesias.
Manoel Camilo dos Santos
Música de Giberto Gil que poucos conhecem... Cheia de proparoxítonas! Vamos encontrá-las? Dica: Existem 30 dessas palavrinhas. Coragem!
Gilberto Gil
Funk-se quem puder
Quem puder
É imperativo dançar
Sentir o impeto
Jogar as nadegas
Na degustação do ritmo
Funk-se quem puder
É imperativo tocar
Fogo nas vertebras
Fogo nos musculos
Musica em todos os atomos
A nossa atlantica e ecletica
Romantica e publica
Republica da musica
Conclama os fisicos, misticos
Barbaros, pacificos
Índios e caras-palidas
Nossos exercitos, políticos
Poder eclesiastico
E o comitê do carnaval
É hora de salvar a pélvis
Soltá-la, libertá-la
Agitá-la como Elvis,
Grande guerreiro e mártir
Da nação do rock'n'roll
Funk-se quem puder
Quem puder
Se é hora da barca virar
Não entre em panico
Jogue-se rapido
Nade de volta à mãe Africa
Funk-se quem puder
Se é tudo que resta a fazer
Não perca o animo
Chegue mais proximo
Sambe e roque-role o maximo
Funk-se quem pude
Musica em todos os atomos
Funk-se quem puder
Nade de volta à mãe Africa
Funk-se quem puder
Sambe o maximo...
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero
BANDEIRA,Manuel. Estrela da vida inteira. 2ªed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1970. p. 193.
Só roupa usada, gasta,
já batida!
Que diabo! Que vida!
Queria um jeans
ou uma minissaia
de etiqueta transada,
um tênis americano,
uma camiseta ecológica
com Chico Mendes, folhas e flores,
e complementos de butique.
Só que, se abro a boca pra pedir,
a casa ferve e lá vem sermão.
Minha mãe diz que tenho muito
e não dou valor,
que meu guarda-roupa está um caos.
Meu pai diz que só dá vermelho
na conta bancária
antes do fim do mês.
Por que não nasci rica?
Por que não sou filha de dona de butique?
Pó que não me aparece um príncipe,
lindo e rico,
dono de petróleo nas arábias?
Elias José. Cantigas de adolescer.
Dos medos todos que eu tenho
o maior é o de ter medo.
Às vezes fico pensando
como é que eu vou fazer
se na hora do apreto,
de um perigo de verdade
-fogo, ladrão ou naufrágio-,
a coragem me faltar...
É tão pequena a distância
entre correr e ficar,
entre fugir e enfrentar,
entre bater e apanhar...
Como sofre quem não sabe
que será quando preciso:
se herói ou se covarde,
se um rato ou se um homem...
Nessas horas de dilema,
melhor é mudar de assunto
e trocar de pensamento.
Besteira sofrer por conta
do que está para acontecer.
Quem sabe até eu não seja
um supertreco qualquer?
Carlos Queiroz Telles. Sementes de sol. São Paulo, Moderna, 1992. p. 50.
Chega uma hora na vida
em que tudo o que mais quero
é poder ficar sozinho.
Sozinho para pensar.
Sozinho para entender.
Sozinho para sonhar.
Sozinho para tentar
me encontrar ou me perder.
Índia não tem filho no mato?
Elefante não morre sozinho?
Por que será
que eu não posso
ficar quieto no meu canto?
Vou pendurar um cartaz
bem em cima da minha cama:
SILÊNCIO! JOVEM CRESCENDO!
Carlos Queiroz. Sementes de sol. São Paulo: Moderna, 1992.
Quero ser o teu amigo
Nem demais, nem de menos
Nem tão longe, nem tão perto
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida
e ficar na tua vida
da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade
Sem jamais te sufocar
Sem forçar tua vontade
Sem falar quando for hora de calar
E sem calar quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias.
Esta é uma história sobre quatro pessoas: TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER UM e NINGUÉM.
Havia um trabalho importante a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza de que ALGUÉM o faria.
QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM o fez.
ALGUÉM zangou-se porque era um trabalho de TODO MUNDO.
TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo.
Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito.
A raiz era a escrava,
descabelada negrinha,
que dia e noite ia e vinha
e para a flor trabalhava.
E a árvore foi tão bela!
Como um palácio. E o vento
pediu em casamento
a grande flor amarela.
Mas a festa foi tão breve,
pois era um vento tão forte
que em vez de amor trouxe morte
à airosa flor tão leve.
E a raiz suspirava
com muito sentimento.
Seu trabalho onde estava?
Todo perdido com o vento.
Cecília Meireles
Sobre as sonoridades dessa letrinha complicada: o "x"!
O x mudar de valor
Parece até camaleão
Que sempre troca de cor.
Na maioria das vezes
O x soa como chê
Xerxes, xícara, xarope
Xadrez e caxinguelê.
Em exame, exílio, exato
Ele tem o som de zê
Essa letra é mais teimosa
Do que saci-pererê.
Em muitos casos o x
Tem o valor de cs
Sexo, fixo, anexo
Desta maneira se lê.
É a letrinha mais indócil
Entre todas do a-be-cê
Em defluxo, trouxe, auxílio
Sua pronúncia é sê.
Falta ainda a sibilante
Que eu digo meio assobiado
Reparem nestes exemplos
Expulso, extrato, explicado
Mas, apesar de tudo isto
O x eu vou defender
Quem conhece os seus valores
Demonstra que sabe ler!
FREITAS, Walter Nieble de. Manual pedagógico para a escola moderna. São Paulo, Pedagógica, s.d.
Eu vou contar pra você
O que é meu maior segredo.
Há uma coisa no mundo
Que me mete muito medo!
Não tenho medo do pai,
Nem da mãe nem do irmão.
Mas eu tenho muito medo
Do barulho do trovão!
Do trovão? Mas que bobagem!
Que medo mais infantil!
Quando o trovão faz barulho
O raio até já caiu...
Lagartixa? Vejam só!
Isso parece piada...
Nem ligo pra lagartixa!
Acho ela uma coitada!
Sabe do que eu tenho medo?
Que me dói o coração?
Até me arrepia a espinha...
Tenho medo de injeção!
Medo eu tenho, vou dizer...
De uma coisa muito mixa...
Mas o que é que eu vou fazer?
Eu detesto lagartixa! Lagartixa?
Ruth Rocha
Olha a bolha d’água
no galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho
na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão
que trabalha!
Olha a bolha de sabão
na ponta da palha:
brilha, espelha
e se espalha.
Olha a bolha!
Olha a olha
que molha
a mão do menino:
A bolha de chuva na calha!
Uma canção, um texto poético. C'est tout!
Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um voo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal
Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou...
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
E eu apenas era...
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Eu olhava da janela lateral do quarto de dormir
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Um cavaleiro marginal
Banhado em ribeirão
Você não quer acreditar...
Fernando Brant e Lô Borges. Interpretação de Beto Guedes. In CD Meus momentos.
Se você for detetive,
descubra por mim
que ladrão roubou o cofre
do banco do jardim
e que padre disse amém
para o amendoim.
Se você for detetive,
faça um bom trabalho:
me encontre o dentista
que arrancou o dente de alho
e a vassoura sabida
que deixou a louca varrida.
Se você for detetive,
um último lembrete:
onde foi que esconderam
as mangas do colete
e quem matou os piolhos
da cabeça do alfinete?
JOSÉ PAULO PAES. Poemas para brincar. São Paulo, Ática, 1991.
Caminho do campo verde,
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.
Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.
Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!
Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.
Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo,
minha alma é a sombra da tua.
Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.
De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.
Eu ando sozinha,
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.
Cecília Meireles. Obra poética. Rio de Janeiro, José Aguilar, 1969, pp. 229-230.
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então . . .
Oh, que escuridão!
Vinícius de Moraes Para gostar de ler, Vol.6 - Poesias, São Paulo, Ática, 1980, p.28.
mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U e faz um I.
Esse mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
Cecília Meireles.In Literatura comentada.São Paulo,Abril Educação, 1982.
Trabalho o dia todo,
todo dia sem falhar.
Não conheço feriado
nem sei o que é repousar.
Sempre em pé, sempre pronta!
Pensam que eu sou de aço?
Sei que sou uma vassoura
mas durmo em pé de cansaço!
Se a visita é bem chata
e com a hora não se importa
me viram de cabeça pra baixo
e fico tonta atrás da porta.
Detergente e sabão
ardem meus olhos pra valer.
O sabão em pó, então?
Ai, como é difícil viver!
Minha maior inimiga
é aquela sujeirinha teimosa
que gruda no chão feito cola
e comigo se faz de gostosa.
Quando é dia de festa,
me escondem com certeza.
Mas quando a festa acaba,
lembram de mim pra limpeza.
Enquanto há música e gente,
têm vergonha de mim.
Eu fico tão chateada
de só ser lembrada no fim...
De madrugada todos dormem,
menos eu e o lixeiro
que varremos a sujeira
das ruas do mundo inteiro.
As praias são tão grandes,
morro de tanto trabalhar.
Se todos sujassem menos,
menos tinha pra limpar.
Quanto mais velha eu fico
bem mais eu quero ficar,
pois só depois de bem velha
me deixam em paz pra brincar.
Guiomar de Paiva Brandão
Lá longe, perto do céu,
lá longe, no fim do mar
há um incêndio, um fogaréu
uma floresta a queimar?!
- Não, não! É um palácio de ouro,
de ouro, de ouro –
à flor do mar!
Por sobre as águas rolando,
branquejando, uma por uma,
passam nuvens a boiar...
nuvens branquinhas saltando,
nuvens branquinhas de espuma
sobre as águas a rolar?!
- Não, não: É um cavalo solto
que vai sem freio, revolto,
crina branca à flor do mar!
Quem me dera ir galopando
nesse cavalo espumando
e entre os ventos a voar...
galopando, galopando
até o palácio cor de ouro,
todo de ouro, além do mar!
Murilo Araújo. Antologia escolar de poemas para a infância. Org. Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, Tecnoprint (Ediouro), s/d. p. 22.
Folhas Secas
Eu estava dando uma aula de Matemática e todos os alunos acompanhavam atentamente. Todos?
Quase. Carolina equilibrava o apontador na ponta da régua. Lucas recolhia as borrachas dos vizinhos e construía um prédio. Renata conferia as canetas e os lápis do seu estojo vermelhíssimo e Hélder olhava para o pátio.
O pátio? O que acontecia no pátio?
Após o recreio, dona Natália varria calmamente as folhas secas, amontoava e guardava tudo dentro de um enorme saco plástico azul. Terminando o varre-varre, dona Natália amarrou a boca do saco plástico e estacionou aquele bafuá de folhas secas perto do portão. Hélder observava atentamente. E eu observava a observação de Hélder – sem descuidar da minha aula de Matemática. De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa.
Qual o motivo do espanto?
Hélder percebeu, no meio das folhas, alguma coisa se movimentando desesperadamente, com aflição, sufoco, falta de ar. Hélder buscava interpretações para a cena, analisava diversas possibilidades, mas o contorno do passarinho já se delineava na transparência azul do plástico. Isso! Um filhote de pássaro caiu do ninho, foi confundido com as folhas secas e foi varrido. Agora lutava pela liberdade.
– Ele tá preso!
O grito de Hélder interrompeu o final da multiplicação de 15 por 127. Todos os alunos olharam para o pátio. E todos nós concordamos, sem palavras: o bico do passarinho tentava romper aquela estranha pele azul. Hélder saiu da sala e nós fomos atrás. E, antes que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra “calma”, o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas secas voaram e as crianças pularam de alegria.
Alguns alunos dizem que havia dois passarinhos presos. Outros alunos viram três passarinhos voando felizes e agradecidos. Lucas diz que era um beija-flor. Renata insiste que era uma cigarra. Eu, sinceramente, só vi folhas secas voando.
Para concluir esta inesquecível aula de Matemática, pegamos vassouras, pás e sacos plásticos e fomos varrer o pátio.
Conto de Francisco Marques (Chico dos Bonecos). Revista Nova Escola.
Sem casa
Tem gente que não tem casa,
mora ao léu, debaixo da ponte.
No céu a lua espia
esse monte de gente
na rua
como se fosse papel.
Gente tem que ter
onde morar,
um canto, um quarto,
uma cama,
para no fim do dia
guardar o corpo cansado
com carinho, com cuidado,
que o corpo e a casa
dos pensamentos.
Roseana Murray. Casas. Formato.
Arnaldo Antunes
Olhos para ver o mar
Orelhas para plantar couve quando estão sujas
Dentes para morder a língua
Pescoço para segurar a cabeça
Pés para ir ao circo
Cabelos para não esquentar a cabeça
Nariz para descobrir que tem bolo
Boca para dizer: oi!
Braços para abraçar os amigos
Mãos para fazer carinho
Pernas para correr o mundo
Bem-te-vi
Amigo gentil
todas as manhãs
me espera no fio.
Sempre feliz,
grita
assim que me vê:
-Bem-te-vi!!
-Bem-te-vi!!
Fiscal da Natureza
sempre atento
nunca dá moleza.
Se a motossera
fere
o jatobá,
o jacarandá,
ou o ipê,
ele logo vê,
e, nervoso, grita assim:
-Te vi!
-Te vi!