Despojamento

Eliminei o excesso de paisagem
simplifiquei toda a decoração
retirei quadros flores ornamentos
apaguei velas copos guardanapos e a música
bani a inutilidade do discurso

na mesa de madeira nua
apenas dois pratos
brancos sem talheres
o banquete será a tua presença.


Ivan Barroso

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,que já tem forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.

( Fernando Pessoa )

Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma.Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles....

( Rubens Alves )

Eu sou eu, você é você.
É vasto.
Vai durar.


Clarice Lispector

Não precisas bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela a porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra.
Aí tens a poltrona, o livro, a rosa, o cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo pousará nos teus joelhos a cabeça...

(Guilherme de Almeida in "A Hóspede")

Eita bicho esquisito é o homem! (Pra não dizer "insensível"!)

"Somente quando a última árvore for cortada, o último rio for poluído e o último peixe for pescado, é que o homem vai perceber que dinheiro não se come".

Caríssimos alunos, aqui vai um recadinho para ajudá-los a tirar maior proveito da leitura do livro paradidático "Irmão Negro":

Se você adquiriu o livro em uma livraria, ou seja, se o seu livro é novo, veio com um encarte (uma folhinha) acompanhando-o. Leia essa folha e procure responder as questões nela propostas; você pode fazê-lo oralmente ou por escrito. Por que é importante resolver as questões dessa folhinha? É importante, pois é uma maneira prática de você saber se entendeu bem a história.

No entanto, se você conseguiu o livro por outro meio (comprou em um sebo, pediu emprestado, adquiriu de outra pessoa, etc.) e já o recebeu sem o encarte, há uma solução: acesse o endereço http://www.moderna.com.br/catalogo/encartes/85-16-03544-1.pdf . Lá você terá acesso ao encarte.

Boa leitura, bons estudos, bom proveito!

Prof. Kennedy

Você acha possível uma pessoa dizer como é um animal, sem nunca tê-lo visto antes?
Se essa pessoa for bem atenta, isto é, se prestar atenção a tudo o que está próximo dela, pode até ser que consiga. Pelo menos no texto a seguir, isso acontece! Leia-o com atenção.


Preparação: Mantenha-se com uma postura adequada para realizar a leitura; leia o texto duas ou mais vezes (segundo sua necessidade). Quanto às palavras desconhecidas, procure entender o significado pelo contexto ou, se julgar necessário, anote-as e busque um sinônimo no dicionário.

O CAMELO EXTRAVIADO

Um condutor de camelos perdeu o seu camelo e, encontrando um homem, perguntou-lhe:
— Por acaso, o senhor não encontrou um camelo extraviado?
O homem respondeu:
— Não é um camelo cego do olho esquerdo?

— Sim.
— Que perdeu um dente de cima?
— Sim.
— Que mancava da perna esquerda traseira?
— Sim!
— Que carregava milho de um lado e mel do outro?
— Sim! O senhor não precisa apresentar mais detalhes. É exata­mente o camelo que procuro. Estou com pressa. Onde o senhor o viu?
— Eu não vi camelo nenhum — respondeu o homem.
— O senhor não viu? E como pôde descrevê-lo tão detalhadamente?
— Porque sei me servir dos olhos para observar as coisas. A maioria das pessoas tem olhos que não lhes servem de nada. Eu sabia que um camelo havia passado, porque vi seus rastros. Sabia que mancava da pata esquerda traseira pelas marcas diferentes deixadas no chão do lado esquerdo. Sabia que era cego do olho esquerdo, porque só pastou o capim do lado direito. Sabia que perdeu um dente de cima, porque deixou falhas nas raízes que mordeu. Notei que aves comiam os grãos de milho que foram caindo do lado esquerdo. Sei que o mel escorreu do lado direito, porque observei muitas moscas juntas desse lado. Sei tudo sobre o seu camelo, mas não o vi.

( Mark Twain) Adaptado de Mauro Ferreira. Col. Entre Palavras Vol. 5 - FTD 2006


1. extraviado: desaparecido; sumido.
2. Falha: marca; defeito.


Mergulhando no texto:

1. O texto que você acabou de ler é um diálogo.

a) Qual é o assunto do diálogo?
b) Quem está dialogando?

2. Você acha que as pessoas que conversam no texto são estranhas uma para a outra? Justifique sua resposta.

3. O homem não viu o camelo, mas conseguiu descrevê-lo. Como ele concluiu que o camelo:

a) era cego de um olho?
b) havia perdido um dente?
c) mancava de uma perna?

4. Como o homem concluiu que, de um lado, o camelo carregava milho e, do outro, levava mel?

5. Na sua opinião, o homem que indicou as características do camelo é um bom observador? Justifique sua opinião.

6. O que o homem que descreveu o camelo quis dizer com a frase "A maioria das pessoas tem olhos que não servem pra nada"?

7. O autor do texto, ao criar essa história, não quis apenas contar um fato a respeito de um camelo. Na verdade, ele inventou esse acontecimento para transmitir aos leitores uma mensagem. Explique, com suas palavras, que mensagem seria essa.

8. Assinale as duas frases que, com outras palavras, transmitem a mesma ideia da frase dita no quesito 6.

( ) "A esperança é a última que morre." (provérbio)
( ) "Quem ama o feio, bonito lhe parece." (provérbio)
( ) "A distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração." (Thomas Merton)
( ) "O mundo está cheio de cegos com vista perfeita." (Rubem Alves)
( ) "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores." (Alberto Caeiro)



Interpretação dos resultados:

Entender um texto é muito importante.

Assim: Excelente se você soube fazer bem todas as questões.
Muito bom se você realizou quase todas as questões bem.
Regular se você não pôde realizar bem as questões. Mas, olha, você pode repeti-lo e melhorar. Essa é a idéia: melhorar!!

Respostas

Para alguns a infância é um período mágico da existência... Será que é isso mesmo?

Ai que saudades...
Ai que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem
mais...
Me sentia rejeitada,
Tão feia, tão desajeitada,
Tão frágil, tola, impotente,
Apesar dos laranjais.
Ai que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida
Não gostava da comida
Mas tinha que comer mais...
Espinafre, beterraba,
E era fígado e era fava,
E tudo que eu não gostava
Em porções industriais.
Oh dias da minha infância,
Quando eu ficava doente,
Ou sentia dor de dente,
E lá vinha tratamento!
Era um tal de vitamina...
Mingau, remédio, vacina,
Inalação e aspirina,
Injeção e linimento!
E sem falar na tortura:
Blusa de gola engomada,
Roupa de cava apertada,
Sapatinho de verniz...
E as ordens? Anda direito!
Diz bom dia pras visitas!
Que menina mais sem jeito!
Tira o dedo do nariz!
Como são tristes os dias
Da criança escravizada,
Todos mandam na coitada,
Ela não manda em ninguém...
O pai manda, a mãe desmanda,
O irmão mais velho comanda,
Todos entram na ciranda,
E ela sempre diz amém...
Naqueles tempos ditosos
Não podia abrir a boca,
E a professora era louca,
Só queria era gritar.
Senta direito, menina!
Ou se não tem sabatina!
Que letra mais horrorosa!
E pare de conversar!
Que aurora! que sol! que nada!
Vai guardar os brinquedos!
Menina, não chupe os dedos!
Não pode brincar na lama!
Vai já botar o agasalho!
Vai já fazer a lição!
Criança não tem razão!
É tarde, vai já pra cama!
Vê se penteia o cabelo!
Menina se mostradeira!
Menina novidadeira!
Está se rindo demais!
- Que amor, que sonhos, que
flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Ruth Rocha. O mito da infância feliz. São Paulo: Summus, 1983.


a) Linimento: preparado líquido ou pastoso, que se aplica com massagem, contra dores
musculares etc.
b) Sabatina: exercício escolar que antigamente se passava para o sábado, como
recapitulação das matérias da semana.
c) Aurora: o início da vida, a infância, a juventude.
d) Mostradeira: que, ou o que mostra, revela, manifesta.
e)Fagueiras:agradáveis.

CONVITE

Poesia
é brincar com as palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?

José Paulo Paes. Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1997.


CONVERSANDO SOBRE O TEXTO


1. Responda às questões a seguir de acordo com a leitura do texto Convite, de José Paulo Paes.

a) Por que o poema se chama Convite?

b) De acordo com o poema que você leu, qual a diferença entre brincar com as palavras e brincar com “bola, papagaio, pião”?

c) Por que o poeta afirma que, quanto mais se brinca com as palavras, mais novas ficam?


2. Complete o verso com outros brinquedos de sua preferência:

Poesia
É brincar com as palavras
Como se brinca
Com _______________________________, ___________________________, _____________________________

3. Escreva uma “receita” de como elaborar uma poesia, indicando os “ingredientes” e o modo de fazer.