sexta-feira, 18 de julho de 2008

Confessional


Eu fui um menino por trás de uma vidraça.
- um menino de aquário. Vi o mundo passar como numa tela
cinematográfica, mas que repetia sempre as
mesmas cenas, as mesmas personagens.
Tudo tão chato que o desenrolar da rua
Acabava me parecendo apenas em preto e
branco, como nos filmes daquele tempo.
O colorido todo se refugiava, então, nas
ilustrações dos meus livros de histórias, com
seus reis hieráticos e belos como os das cartas de jogar.E suas filhas nas torres altas – inacessíveis
princesas. Com seus cavalos – uns
verdadeiros príncipes na elegância e na riqueza dos jaezes.Seus bravos pagens (eu queria ser um deles...)Porém, sobrevivi...E aqui, do lado de fora, neste mundo em que
vivo, como tudo é diferente! Tudo, ó menino
do aquário, é muito diferente do teu sonho...(Só os cavalos conservam a natural nobreza.)


Mário Quintana. Antologia Poética.Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

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