quarta-feira, 30 de julho de 2008

Há beleza perfeita? Leia o texto abaixo e conheça uma história bem interessante...





Na história que você vai ler a seguir, inspirado na fábula de Esopo “O pavão e a gralha”, Monteiro Lobato substitui a gralha, ave de arribação e de cor cinzenta, por um corvo, de coloração preta e tida como de mau-agouro, que entra em contraste com o pavão de penas coloridas.



O corvo e o pavão


O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo ao corvo:
— Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores, que maravilhosa plumagem! Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não?
— Não há dúvida que você é um belo bicho — disse o corvo. Mas, perfeito? Alto lá!
— Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau agouro... Que falha você vê em mim, ó tição de pernas?
O corvo respondeu:

— Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhes deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre diabo como eu...
O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma.


Tinha razão o corvo: não há beleza sem senão.



LOBATO, Monteiro. Fábulas. 32ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

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