O rei que mora no mar é uma poema que conta uma lenda. A lenda da Praia dos Lençóis no Maranhão, a lenda maranhense do rei português Dom Sebastião, que teria encarnando em um touro.
O menino-poeta Gullar não cansa de se renovar. Em seu site pessoal, brinca com a palavra através do programa flash, onde as frases se misturam, formando poemas ou se esvaindo. É a arte e o poema que não morrem nunca, que reencarnam. Pois bem, o que são artistas-poetas? Gullar respondeu: "são pessoas que ficam permanentemente teimando, no fundo são meninos. Um menino que não amadurece. Mas que diabos é amadurecer? Virar um cadáver adiado, como dizia o Fernando Pessoa? O artista é, na verdade, a necessidade que o mundo tem de manter viva a fantasia, a ilusão, que no fundo é o que vale a pena".
O rei que mora no mar
Diz a lenda que na praia
dos Lençóis no Maranhão
há um touro negro encantado
e que esse touro é Dom Sebastião.
Dizem que, se a noite é feia,
qualquer um pode escutar
o touro a correr na areia
até se perder no mar
onde vive num palácio
feito de seda e de ouro.
Mas todo encanto se acaba
Se alguém enfrentar o touro.
Isso é o que diz a lenda.
Mas eu digo muito mais:
Se o povo matar o touro,
a encantação se desfaz.
Mas não é o rei, é o povo
que afinal desencanta.
Não é o rei, é o povo
que se liberta e levanta
como seu próprio senhor:
Que o povo é o rei encantado
no touro que ele inventou.
GULLAR, Ferreira. O rei que mora no mar. 2ª ed. - São Paulo: Global, 2002. Coleção Magias
Obs.: Uma pequena ilha localizada a 200 km da costa do Maranhão esconde mistérios que remontam às Cruzadas, em que figuras míticas se misturam com vultos a galope pela noite, bichos dourados, seres sobrenaturais, tudo emoldurado por uma lenda portuguesa de quase 500 anos. Essa ilha existe, se chama Lençóis e é habitada por gente de carne e osso, muitas delas albinas, pessoas que vivem precariamente da pesca, bebem água da chuva e acreditam que lá mora, em um castelo encantado, o rei de Portugal Dom Sebastião, desaparecido em 1578, aos 24 anos, na batalha de Alcácer Quibir, no Marrocos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário