quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Há dez anos, o poeta José Paulo Paes partiu para a outra margem do rio. Mas deixou eternizados belos poemas...

Madrigal

Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.

Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.



Outro retrato

O laço de fita
que prende os cabelos
da moça do retrato
mais parece uma borboleta.


Um ventinho qualquer
e sai voando
rumo a outra vida
além do retrato.


Uma vida onde os maridos
nunca chegam tarde
com um gosto amargo
na boca.



Passarinho fofoqueiro

Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra é muito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca...
xô , passarinho! chega de fofoca!




Convite

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.


Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.


As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.


Como a água do rio
que é água sempre nova.


Como cada dia
que é sempre um novo dia.


Vamos brincar de poesia?



JOSÉ PAULO PAES. Os melhores poemas de José Paulo Paes.
Seleção Davi Arrigucci Jr. – 5ª. Edição. São Paulo: Global, 2.003. 241 p.

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