sexta-feira, 31 de julho de 2009

VIAGEM A SÃO SARUÊ


Doutor mestre pensamento
me disse um dia: - Você
Camilo vá visitar
o país São Saruê
pois é o lugar melhor
que neste mundo se vê.

Eu que desde pequenino
sempre ouvia falar
neste tal São Saruê
destinei-me a viajar
com ordem do pensamento
fui conhecer o lugar.

Iniciei a viagem
às quatro da madrugada
tomei o carro da brisa
passei pela alvorada
junto do quebrar da barra
eu vi a aurora abismada.

Pela aragem matutina
eu avistei bem defronte
a irmã linda aurora
que se banhava na fonte,
já o sol vinha espargindo
no além do horizonte.

Surgiu o dia risonho
na primavera imponente
as horas passavam lentas
o espaço incandescente
transformava a brisa mansa
em um mormaço dolente.

Passei do carro da brisa
para o carro do mormaço
o qual veloz penetrou
no além do grande espaço
nos confins do horizonte
senti do dia o cansaço.

Enquanto a tarde caía
entre mistério e segredos
a viração docilmente
afagava os arvoredos,
os últimos raios do sol
bordavam os altos penedos.

Morreu a tarde e a noite
assumiu sua chefia
deixei o mormaço e passei
pro carro da neve fria
vi os mistérios da noite
esperando pelo dia.

Ao surgir da nova aurora
senti o carro pairar
olhei e vi uma praia
sublime de encantar
o mar revolto banhando
as dunas da beira mar.

Avistei uma cidade
como nunca vi igual
toda coberta de ouro
e forrada de cristal
ali não existe pobre
é tudo rico em geral.

Uma barra de ouro puro
servindo de placa eu vi
com as letras de brilhante
chegando mais perto eu li
dizia: - São Saruê
é este lugar aqui.

Quando avistei o povo
fiquei de tudo abismado
uma gente alegre e forte
um povo civilizado
bom, tratável e benfazejo
por todos fui abraçado.

O povo em São Saruê
tudo tem felicidade
passa bem, anda decente
não há contrariedade
não precisa trabalhar
e tem dinheiro à vontade.

Lá os tijolos das casas
são de cristal e marfim
as portas barras de prata
fechaduras de "rubim"
as telhas folhas de ouro
e o piso de cetim.

Lá eu vi rios de leite
barreiras de carne assada
lagoas de mel de abelha
atoleiros de coalhada
açudes de vinho do porto
montes de carne guisada.

As pedras em São Saruê
são de queijo e rapadura
as cacimbas são café
já coado e com quentura
de tudo assim por diante
existe grande fartura.

Feijão lá nasce no mato
maduro e já cozinhado
o arroz nasce nas várzeas
já prontinho e despolpado
peru nasce de escova
sem comer vive cevado.

Galinha põe todo dia
invés de ovos é capão
o trigo invés de sementes
bota cachadas de pão
manteiga lá cai das nuvens
fazendo ruma no chão.

Os peixes lá são tão mansos
com o povo acostumados
saem do mar vêm pras casas
são grandes, gordos e cevados
é só pegar e comer
pois todos vivem guisados.

Tudo lá é bom e fácil
não precisa se comprar
não há fome nem doença
o povo vive a gozar
tem tudo e não falta nada
sem precisar trabalhar.

Maniva lá não se planta
nasce e invés de mandioca
bota cachos de beiju
e palmas de tapioca
milho a espiga é pamonha
e o pendão é pipoca.

As canas em São Saruê
não têm bagaço (é gozado)
umas são canos de mel
outras açúcar refinado
as folhas são cinturão
de pelica e bem cromado.

Lá os pés de casimira
brim, borracha e tropical
de naycron, belga e linho
e o famoso diagonal
já bota as roupas prontas
próprias para o pessoal.

Os pés de chapéu de massa
são tão grandes e carregados
os de sapatos da moda
têm cada cacho "aloprado"
os pés de meias de seda
chega vive "escangalhado".

Sítios de pés de dinheiro
que faz chamar atenção
os cachos de notas grandes
chega arrastam pelo chão
as moitas de prata e ouro
são mesmo que algodão.

Os pés de notas de mil
carrega chega encapota
pode tirar-se à vontade
quanto mais tira mais bota
além dos cachos que tem
casca e folha tudo é nota.

Lá quando nasce um menino
não dá trabalho a criar
Já é falando e já sabe
ler, escrever e contar
salta, corre, canta e faz
tudo quanto se mandar.

Lá não se vê mulher feia
e toda moça é formosa
bem educada e decente
bem trajada e amistosa
é qual um jardim de fadas
repleto de cravo e rosa.

Lá tem um rio chamado
o banho da mocidade
onde um velho de cem anos
tomando banho à vontade
quando sai fora parece
ter vinte anos de idade.

É um lugar magnífico
onde eu passei muitos dias
bem satisfeito e gozando
prazer, saúde, alegrias
todo esse tempo ocupei-me
em recitar poesias.


Manoel Camilo dos Santos

Nenhum comentário: