quinta-feira, 27 de maio de 2010

TEXTO 1

Aventura

5 430 quilômetros a nado

Esse será o desafio do atleta esloveno Martin Strel ao percorrer o Rio Amazonas da nascente à foz

Rafael Corrêa

O mundo dos superatletas é feito de proezas que desafiam os limites do corpo e deixam espantadas as pessoas comuns. O nadador esloveno Martin Strel faz parte desse time de esportistas de desempenho excepcional. Conhecido como homem-peixe, sua especialidade é nadar pelos rios de ponta a ponta. Nesta quinta-feira, Strel dá início à mais ambiciosa de suas aventuras. Ele vai atravessar o Rio Amazonas desde o Peru, onde ainda se chama Apurimac e recebe a neve derretida da cordilheira andina, até Belém do Pará, aonde deverá chegar no dia 11 de abril. Concluída a façanha, terá nadado 5.430 quilômetros em setenta dias, parando apenas para almoçar e dormir de três a quatro horas por noite. A cada dia ele vai nadar uma média de 78 quilômetros, cinco vezes a extensão da Ponte Rio–Niterói. No caminho, enfrentará redemoinhos traiçoeiros, águas infestadas de piranhas, tubarões que vivem em água doce e, é claro, a célebre pororoca, que forma ondas de até 4 metros na foz do Amazonas.

"Essa é a travessia mais radical que já fiz. Sei que corro riscos, mas é o sonho de minha vida", disse Strel a VEJA antes de embarcar para o Peru. À primeira vista, pode-se duvidar que Strel – 52 anos, 1,85 metro de altura, 111 quilos e barriga saliente – tenha o físico ideal para um desafio desse porte. Mas seu currículo é impressionante. Em 2000, ele superou os 3.000 quilômetros que separam a nascente e a foz do Rio Danúbio, no continente europeu. Dois anos depois, nadou 3 800 quilômetros no Rio Mississippi, o maior dos Estados Unidos. Em 2004, o atleta atravessou 4.000 quilômetros no Yang Tsé, o mais comprido rio da China. Seus feitos esportivos são comparáveis aos de outro superatleta, o corredor grego Yiannis Kouros, que detém o recorde de correr 1.036 quilômetros em seis dias. Para planejar sua nova odisseia, Strel visitou três vezes a região amazônica. Conversou com moradores ribeirinhos e autoridades locais sobre os perigos do rio e se certificou das providências que seriam necessárias para a viagem.

O projeto consumiu, até agora, 1 milhão de dólares, financiados em grande parte por patrocinadores estrangeiros. Strel será acompanhado por uma equipe de vinte pessoas, distribuídas em três barcos de apoio. Na equipe há médicos, guias e até mesmo homens armados. "As armas são apenas para espantar animais grandes", ele informa. Bagagem imprescindível nos barcos são as bolsas de sangue, destinadas a atrair os cardumes de piranhas e mantê-los longe do nadador. Se conseguir escapar ileso de sua aventura amazônica, Strel pretende nada menos que atravessar o Oceano Atlântico. "Não deve ser impossível", aposta. Parece uma ideia lunática, mas, em se tratando dos superatletas, é bom não duvidar.

Revista Veja Edição 1993 . 31 de janeiro de 2007


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