terça-feira, 15 de julho de 2008

Elfos, o deus do ar, não gostava só de voar pelos ares. Também adorava jóias preciosas. E isso o levou até um navio naufragado.


O Elfo e a Sereia

Mexe que mexe, vira que vira, procura que procura, achou uma caixinha de madrepérola e coral. Tinha todo o jeito de guardar um tesouro. De dentro, vinha uma música tão linda como o canto dos pássaros ou a canção do bisavô-anjo.
Com dificuldade, o Elfo abriu a caixa.
Lá dentro, uma Sereia cantava, enquanto penteava os longos cabelos verdes. Cantava e chorava.
Quando viu o Elfo, parou de chorar e falou cantando:
- Muito obrigada. Você me salvou. A tempestade me jogou aqui e eu estava presa. Se eu ficasse muito tempo fora d’água, ia morrer. Por favor, ponha-me de volta no mar antes que outro sol nasça.
- Não posso – disse o Elfo. – Você é a jóia mais rara e preciosa, o tesouro mais brilhante que já piscou para mim, e canta a canção mais suave que já visitou meus ouvidos. Preciso de você. Fique comigo.
- Se eu ficar, eu morro – disse a Sereia. – Bem que eu gostaria! Você tem os olhos mais verdes que o vento do mar, um jeitão de madeira mais seguro que qualquer navio, o cheiro da terra mais forte e fresquinho que já senti. Mas não posso demorar fora d’água. Venha comigo.
- Não posso. Fora da mata eu morro. Também não posso demorar.
- E justamente porque estava gostando tanto dela, o Elfo soltou a Sereia no mar.
- E ela, justamente porque estava gostando tanto dele, não enrolou seus longos cabelos verdes no musgo do manto dele, não o arrastou.
Cada um foi para o seu lado. Mas ficaram tristes.
No fim de algum tempo, ele sentia tanta saudade que conseguiu um milagre: tecendo pétalas de flor, acabou fazendo uma túnica cor de maresia.
Enquanto isso, no chuveiro das ondas, a Sereia conseguia tomar banho de cheiro de luar na mata, com todos os seus cricris.
Uma noite, acabaram voltando à praia e se encontrando. Outras noites. Muitas. De lua cheia ou lua nova. Sempre se separando antes de o sol nascer.
E aos poucos começaram a surgir outros seres na mata e no mar. Iaras nas cachoeiras. Ninfas nos rios. Algas que viraram florestas nas profundezas marinhas. Peixes-voadores sobre as ondas, com asas leves e transparentes.
E no fundo das conchas mais fundas, novos tesouros – as pérolas. Seres maravilhosos que moram ao mesmo tempo na fantasia, na mata e no mar.
Parece que é porque o Elfo e a Sereia tiveram muitos filhos. E parece que é porque, desse jeito que eles inventaram, cada um seguiu sua vida, mas acabaram sendo felizes para sempre.

Ana Maria Machado. O Elfo e a Sereia.
São Paulo, Melhoramentos, 1987.

ESTUDO DO TEXTO:
1. A história fala de um grande amor. Quem são as personagens?
2. Quem é Elfo?
3. Elfo e a Sereia se apaixonaram. O que os impedia de ficar juntos?
4. Relacione Elfo e a Sereia às suas qualidades físicas:
a. Elfo ( ) tinha cabelos longos e verdes.
b. A Sereia ( ) tinha olhos verdes.
( ) tinha um jeitão de madeira mais seguro que navio.
( ) era uma jóia rara e preciosa.

5. No texto, há diversas comparações feitas pelas personagens. Indique a quem eram dirigidas as comparações abaixo. Se dirigida à Sereia, marque um S ; se dirigida a Elfo, marque um E .

- Você é a jóia mais rara e preciosa que já vi. ( )
- Você tem os olhos mais verdes que o vento do mar. ( )
- O cheiro de terra mais forte e fresquinho que já vi. ( )
- O tesouro mais brilhante que já piscou para mim. ( )

Nenhum comentário: