quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mais alguns poemas de Quintana... Boa leitura!

CANÇÃO DA GAROA


Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin
Um anjo todo molhado
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim,
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

Chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...



O POETA E A SEREIA

Sereiazinha do rio Ibira...
Feiosa,
Até sardas tem.
Cantar não sabe:
Olha e me quer bem.
Seus ombros têm frio.
Embalo-a nos joelhos,
Ensino-lhe catecismo
E conto histórias que inventei especialmente para o seu espanto.

Um dia ela voltou para o seu elemento!

Sereiazinha,
Eu é que sinto frio agora...



CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como essas nuvens do céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência...esperança...

E a rosa louca dos ventos
presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...


A MINHA RUA

É uma rua em que tenho o vício
De entrar, e onde eu nunca entrei,
E que vai dar na Babilônia, eu sei,
Ou nalgum porto fenício...

Se eu la entrasse, seria rei,
Ou morreria nalgum suplício...
Crimes que lá cometerei
Não deixariam nenhum indício...

Lá não se pensa, mas se responde
Conforme as rimas que um outro dá.
Exemplo: templo. É o templo onde

O senhor padre me casará
Com a linda filha de algum visconde
Ou do marquês de Maricá!




SONATINA LUNAR

Os padeiros da lua
derrubam farinha
na noite retinta.
Quem ganha? É o chão
que se pinta e repinta
de giz e carvão.


Rendilha de aranha
na face encantada,
moedinha de prata
escondida na mão,
minh`alma menina
fugiu para a mata.


Meu coração
bate sozinho
no velho moinho
da solidão.


Até eu me fujo...

Eu sou o corujo,
olhar enorme
que nunca dorme.
Nana, nana
nina, nina,
alma menina...
E sonha comigo

por alguns instantes,
onde estejas tu...
Sonha comigo
como eu era dantes!


Os padeiros da lua
derrubam farinha...
O chão se repinta
de giz e carvão...


Sonha,
menina,
na mata assombrada
enquanto o moinho vai rangendo em vão.





RITMO

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate a roupa
bate roupa
bate roupa


até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

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