segunda-feira, 6 de julho de 2009

Aí está um bom texto que ilustra muito bem o raciocínio capitalista... Nada como o humor!

O nascer do capitalismo

Um homem tinha uma fazenda perto de um rio. Certo dia o rio começou a subir e ele percebeu que sua fazenda ia ficar submersa.

Transferiu toda sua família e todo seu gado e todos os utensílios e móveis para o alto da montanha mais próxima. Havia na sua fazenda, exatamente 284 quilômetros de arame-farpado. Era um arame de sete farpas por metro, num total de sete mil farpas por quilômetro e, portanto, toda cerca somava 1.988.000 farpas. O homem arranjou um empregado que, sem comer nem dormir, colocou em cada uma dessas farpas um pedacinho de carne, uma isca qualquer. Quando terminou, mal teve tempo de subir a montanha. Veio o dilúvio.

Durante noventa e três horas choveu ininterruptamente. Durante noventa e seis horas o rio esteve três metros acima da cerca. Mas logo as águas cederam e rapidamente o rio voltou ao normal. O homem desceu e examinou a cerca. Encontrou, maravilhado, um peixe pendente de cada farpa, exceto três. Ou seja, um total de 1.987.997. Havia tainhas, e havia robalos, corvinas, namorados, galos e muitas outras espécies que ele nunca vira.

Cada peixe pesava, em média, duzentos e cinquenta gramas, de modo que o homem tinha um total de 496.999.250 gramas de peixe fresco, ou seja, 496.999 quilos de peixe. Isso tudo, vendido a 10 reais o quilo, vocês façam a conta e...

Ah, naturalmente o empregado foi despedido porque colocou mal as iscas nas três farpas que falharam.

Millôr Fernandes. Fábulas fabulosas, Editora Nórdica. (Ligeiramente adaptado)

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