Ladrão que rouba ladrão
O ladrão estava abrindo a porta do carro, chegou o flanelinha:
O ladrão estava abrindo a porta do carro, chegou o flanelinha:
– Quer que cuide, doutor?
– Tu é burro, hein, cara, não vê que tô saindo?
Entrou no carro, ficou esperando o flanelinha se mandar, ele se chegou:
– Dá um miúdo, tio...
– Te dou é um cascudo, se manda!
Abriu os vidros, o carro estava no sol. O flanelinha correu para um carro que vinha devagar caçando vaga, apontou onde ele estava, ele botou a cabeça para fora:
– Não vou sair, não, ô, infeliz!
Ligou o rádio, o carro era uma sauna. Assustou-se com a cabeça do guri na janela:
– Mas o senhor falou que ia sair.
– Mas não falei que ia sair agora, né, quer me dar paz?!
– Por mim – o guri cantarolou se afastando –, pode cozinhar aí!
– Ele se debruçou enfiando a mão debaixo do painel, achou logo os fios, puxou para fora, fez a ligação. Quando se endireitou pegando o volante, deu de novo com o moleque ali:
– Me dá um dinheiro, tio, senão aviso o guarda! – apontou um PM dirigindo o trânsito lá no cruzamento.
Era um guri miúdo e vivo, devia ser muito ligeiro, então ele enfiou a mão no bolso, tirou umas moedas.
– Dinheiro, tio, dinheiro, moeda não!
Ele deu uma nota, o guri puxou outra.
– Ladrão!
– Só eu, tio?!
Ele deu partida, o motor pegou na primeira, ele agradeceu a Deus (sim, a Deus). Arrancou logo, passou pelo guarda, aí foi resmungando que ladrãozinho, que ladrãozinho:
– É por isso que o Brasil não vai pra frente!
PELLEGRINI, Domingos. Ladrão que rouba ladrão e outras crônicas – Coleção para gostar de ler, n° 33, 1ª ed. Ática, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário