sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Uma noite no paraíso
Sylvia Manzano

Certa vez, dois amigos inseparáveis fizeram o seguinte juramento: aquele que casasse primeiro chamaria o outro para padrinho, mesmo que esse outro estivesse no fim do mundo.Pois bem: um dos amigos morre e o outro, que estava noivo, não sabendo o que fazer, vai pedir conselhos a seu confessor. O pároco assegura que a palavra deve ser mantida. Então o noivo vai até o túmulo do amigo convidá-lo para o casamento.

O morto aceita o convite de muito bom grado. No dia da cerimônia, não diz uma palavra sobre o quevira no outro mundo. No final do banquete ele fala:

– Amigo, como lhe fiz este favor, você agora deve me acompanhar um pouquinho até minha morada.

O recém-casado, não resistindo à curiosidade, pergunta como era a vida do outro lado.

O morto, fazendo um pouco de suspense, responde dessa forma:

– Se quiser saber, venha também ao paraíso. O outro concorda. O túmulo se abre e o vivo segue o morto. A primeira coisa que vê é um lindo palácio de cristal, onde os anjos tocavam para os beatos dançarem e São Pedro, muito feliz, dedilhava seu contrabaixo. Mais adiante, o amigo lhe apresenta nova maravilha: um jardim onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores, que cantavam.

– Vamos em frente – diz o morto ao amigo, que fica cada vez mais deslumbrado. – Agora vou levá-lo para ver uma estrela.

O recém-casado percebe que não se cansaria nunca de admirar as estrelas, os rios, que em vez de água eram de vinho, e a terra, que era de queijo. De repente o noivo cai em si, lembra-se da noiva que ficara a esperá-lo e pede:

– Compadre, preciso voltar para casa, minha esposa deve estar preocupada.

– Como preferir.

Assim dizendo, o morto o acompanha até o túmulo, sumindo logo a seguir. Ao sair do túmulo, o vivo fica assombrado com o que vê ao redor: no lugar daquelas casinhas de pedra meio improvisadas há palácios, bondes, automóveis; as pessoas todas vestidas de modo diferente. Para se certificar, pergunta o nome da cidade a um velhinho que por ali passava.

– Sim, é esse o nome desta cidade.

No entanto, ao chegar à igreja é atendido por um bispo muito importante que, consultando os arquivos existentes ali, descobre que trezentos anos atrás um noivo havia acompanhado o padrinho ao túmulo e não tinha voltado nunca mais.

Transcrito de Nova Escola, São Paulo, v.9, n.75, p.30-1, maio 1994.

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