sábado, 3 de abril de 2010

Ninguém mente por uma rolinha

A conversa de beira de fogo era de mato adentro, coisas de assombrados e caçadas. Nonô Vergueiro relatou o caso de uma alma penada que ele desenferrujou a poder de fumegação e reza. E Jojó Reis falou de um tiro que deu no tempo em que era caçador de rolinha. O tiro de Jojó saiu assim:

- Cheguei numa lagoinha de gravatá e vi aquele comício de rolinhas que mais parecia uma inundação de bico e pena. Meti na espingarda munição fina, um cartucho espalhador, desses de fazer leque no bocal da arma como rolinha aprecia. E bem o tiro não tinha saído já uma nuvem de pena tomava conta da lavourinha de gravatá. Contei, no coice da espingarda, um numeragem de quatrocentos e noventa e nove peças. Sem mentira nenhuma!

O filho de Jojó Reis, que capengava a conversa enquanto esquentava batata-doce na fogueira, deu aparte:

- Que quatrocentos e noventa e nove, que nada! O pai defuntou quinhentas que contei com estes olhos de viver e de morrer. Sem mentira nenhuma.

E Jojó Reis zelando pela verdade:

- Quatrocentos e noventa e nove, menino! Sou lá homem de mentir por uma rolinha?

José Candido de Carvalho

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