quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A irmã da Terra

A descoberta de um planeta muito parecido com o que habitamos abre uma possibilidade espetacular: a existência de vida extraterrestre

Há apenas vinte anos, não existia comprovação da existência de planetas fora do sistema solar. Com o avanço da tecnologia de observação do espaço, os astrônomos já conseguiram descobrir quase 500 deles no universo. São os chamados exoplanetas. Na semana passada, dois cientistas americanos anunciaram a descoberta do exoplaneta que, entre todos os já avistados, guarda maior similaridade com a Terra. Batizado de Gliese 581g, ele orbita em torno da estrela Gliese 581, na constelação de Libra. “Seu tamanho, força de gravidade e variação de temperatura na superfície fazem dele um astro muito parecido com o planeta que habitamos”, disse a VEJA o astrônomo Steven Vogt, da Universidade da Califórnia, um dos autores da descoberta. O Gliese 581g foi avistado depois de onze anos de observações. Os pesquisadores também cruzaram seus dados com os da equipe de astrônomos suíços que, há três anos, descobriu quatro planetas orbitando a Gliese 581. Em um deles, identificaram-se semelhanças com a Terra, mas o astro agora descoberto pode ser considerado um irmão de nosso planeta.

O Gliese 581g orbita seu sol na região que, em astronomia, se chama zona habitável de um sistema estelar. Nessa região, um planeta recebe calor na quantidade exata para permitir a existência de água em estado líquido em sua superfície. É possível, portanto, que o Gliese 581g abrigue alguma forma de vida – mas dificilmente se poderá saber. O planeta está localizado a 20 anos-luz da Terra, o equivalente a 190 trilhões de quilômetros. A distância é pequena para os padrões cósmicos, mas impossível de ser percorrida por uma nave espacial, muito menos por uma nave tripulada. Uma viagem a Gliese 581g num dos ônibus espaciais da Nasa levaria 766000 anos, quatro vezes o tempo que o Homo sapiens habita a Terra.

A Gliese 581 é uma estrela anã vermelha, um astro de luminosidade inferior à do Sol e está na metade de sua vida – deve brilhar por “apenas” mais 5 bilhoes de anos. Até a descoberta de seu sistema, nenhum dos exoplanetas observados apresentava condições adequadas para abrigar vida da forma que a conhecemos. Eles são, na maioria, imensas bolas de gases venenosos com força gravitacional colossal. O Gliese 581g abre uma nova fronteira na astrofísica.

Alexandre Salvador. Veja, ed. 2185 – ano 43 – nº 40 – 6 de outubro de 2010.


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